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Governo busca reverter tarifa dos EUA sobre produtos brasileiros antes de agosto

 Governo busca reverter tarifa dos EUA sobre produtos brasileiros antes de agosto

Setores como o de produtores de carne e frutas ressaltam que, se a tarifa de 50% for realmente aplicada, as exportações para os Estados Unidos ficarão inviáveis. (Foto: Freepik)

O vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin (PSB), reuniu-se na terça-feira (15) com representantes da indústria e do agronegócio para discutir estratégias diante da decisão dos Estados Unidos de aplicar uma tarifa de 50% sobre produtos importados do Brasil. A medida, anunciada pelo presidente estadunidense Donald Trump, deve entrar em vigor em 1º de agosto.

Durante o encontro, Alckmin destacou que o governo brasileiro está atuando para reverter a taxação antes da data prevista. Ele classificou a medida como “completamente inadequada” e lembrou que os EUA mantêm superávit comercial com o Brasil há 15 anos, com uma tarifa média de apenas 2,7% sobre os produtos americanos.

Na tentativa de ampliar as possibilidades de resposta do país, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) regulamentou, também na terça-feira, a Lei da Reciprocidade Econômica. O decreto permite ao Brasil adotar contramedidas formais contra países ou blocos econômicos que tomem ações unilaterais prejudiciais à competitividade brasileira.

Segundo o MDIC, essas contramedidas poderão incluir a suspensão de concessões comerciais, investimentos e obrigações relativas à propriedade intelectual. Um comitê interministerial foi criado para deliberar sobre possíveis reações, que poderão ser provisórias (mais rápidas) ou ordinárias (com consulta pública e análise técnica).

Setores pressionam por diálogo e adiamento

Apesar da nova regulamentação abrir caminho para retaliações, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) defende que o Brasil esgote todas as possibilidades de diálogo. O presidente da CNI, Ricardo Alban, sugeriu que o governo negocie com os EUA um adiamento de 90 dias no início da tarifa, o que abriria espaço para soluções diplomáticas e setoriais.

“O setor produtivo, a indústria e, certamente, o agronegócio estão convergentes na busca da solução, porque o que temos aqui é um verdadeiro ‘perde-perde’”, afirmou Alban após participar da primeira reunião do Comitê Interministerial.

A CNI estima que a nova tarifa poderá causar a perda de ao menos 110 mil empregos diretos no Brasil, além de impactos significativos sobre o Produto Interno Bruto (PIB) e a balança comercial.

Preocupação no agronegócio

Embora não tenha participado das reuniões com o governo, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) divulgou nota expressando preocupação com o cenário. “Enquanto o Brasil real tenta recuperar sua economia, atrair investimentos, abrir mercados e gerar empregos, a política nacional insiste em girar em torno de uma pauta estéril, paralisante, marcada por radicalismos ideológicos e antinacionais”, diz o comunicado.

O presidente da Associação Brasileira de Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), Roberto Perosa, relatou que frigoríficos já suspenderam parte da produção destinada aos EUA. “Existem contratos em andamento. Cerca de 30 mil toneladas estão em portos ou embarcadas. Esses 50% tornariam inviável a exportação”, alertou.

Também presente à reunião, o presidente da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas), Guilherme Coelho, relatou apreensão entre produtores de manga. Segundo ele, 2,5 mil contêineres já foram contratados para embarque ao mercado norte-americano, com base em uma safra planejada há mais de seis meses.

Próximos passos

O governo brasileiro articula uma estratégia conjunta com o Itamaraty, Ministério da Fazenda e Casa Civil. O objetivo central, segundo Geraldo Alckmin, é evitar o início da nova tarifa, buscando uma negociação que preserve os interesses comerciais do Brasil sem acirrar disputas bilaterais.

“O Brasil não pretende ser reativo intempestivamente. O que nós queremos é o entendimento”, concluiu o vice-presidente.

A expectativa é que, nos próximos dias, novas reuniões e negociações ocorram tanto no âmbito doméstico quanto internacional, envolvendo representantes do setor produtivo, diplomatas e autoridades comerciais.

Redação

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