Produtores e parlamentares reagem ao boicote do Carrefour à carne do Mercosul

 Produtores e parlamentares reagem ao boicote do Carrefour à carne do Mercosul

Boicote deve provocar desabastecimento nas lojas do Carrefour, Atacadão e Sam’s Club em três dias. (Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)

O recente anúncio do CEO do Carrefour, Alexandre Bompard, de boicotar a carne do Mercosul gerou uma forte mobilização no Brasil, envolvendo produtores rurais, parlamentares e até mesmo o ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro. A proposta de interrupção de fornecimento de carne às lojas do Carrefour no país, somada a possíveis ações políticas, reflete a indignação contra a postura da rede francesa.

Ação coordenada no Congresso Nacional
Parlamentares ligados ao agronegócio assumiram papel de liderança na reação ao Carrefour. O deputado Pedro Lupion (PP-PR), presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, defendeu que frigoríficos brasileiros suspendam imediatamente o fornecimento de carne ao grupo. Paralelamente, o deputado Alceu Moreira (MDB-RS) propôs a criação de uma comissão externa na Câmara dos Deputados para investigar denúncias relacionadas à conduta da rede no Brasil, que incluem questões raciais, ambientais e trabalhistas.

No Senado, a senadora Tereza Cristina (PP-MS) apresentou um pedido para que o embaixador da França no Brasil, Emmanuel Lenain, seja convocado à Comissão de Relações Exteriores. O objetivo é obter esclarecimentos sobre o posicionamento da França em relação ao acordo Mercosul-União Europeia e ao boicote anunciado por Bompard.

Impacto no mercado e reação dos produtores
O boicote declarado por Bompard ocorreu em apoio a agricultores franceses que temem a concorrência de produtos sul-americanos no mercado europeu. Apesar de o Carrefour ter enfatizado que a decisão se limita à França, a declaração gerou indignação no Brasil. Entidades do agronegócio afirmaram que, se o Mercosul “não serve para abastecer o Carrefour na França, também não servirá em outros países”.

O ministro Carlos Fávaro reforçou essa posição: “Se a carne brasileira não é boa o suficiente para os franceses, não será também para abastecer o Carrefour no Brasil.”

Governadores e lideranças estaduais também aderiram à campanha. Mauro Mendes (União-MT), governador do Mato Grosso, declarou publicamente que deixará de comprar nas lojas do Carrefour.

Negativa de desabastecimento e resposta empresarial
Em nota oficial, o Grupo Carrefour Brasil negou a existência de desabastecimento de carne em suas lojas, afirmando que a comercialização segue normalmente. Contudo, relatos regionais indicam que cerca de 150 supermercados da marca no Brasil já estariam sofrendo interrupções no fornecimento.

Chamado ao boicote por setores empresariais
A Federação de Hotéis, Restaurantes e Bares do Estado de São Paulo emitiu comunicado conclamando seus associados a aderirem ao movimento contra o Carrefour. A entidade representa mais de 500 mil empresas no Estado e condenou o que classificou como um “posicionamento desrespeitoso” do grupo francês.

A adesão ao boicote inclui também outras marcas do grupo, como Atacadão e Sam’s Club, intensificando a pressão sobre a varejista.

Uma disputa que extrapola fronteiras
O impasse reflete tensões crescentes entre o Mercosul e a União Europeia, em especial a França, que se opõe a acordos comerciais temendo impactos no setor agrícola europeu. A reação no Brasil sinaliza que produtores e autoridades estão dispostos a usar medidas comerciais e políticas para defender a qualidade da carne brasileira, reconhecida mundialmente.

O episódio, que começou com uma decisão local do Carrefour na França, rapidamente escalou para um movimento nacional no Brasil, destacando a importância estratégica do agronegócio para o país e sua crescente influência política.

Igor Sorente

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