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O que a restauração do MASP nos conta?
Mais do que a retirada da cor vermelha, o Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP) está passando, desde abril, pela primeira grande reforma que protagonizou. Ao viver o maior processo de expansão e restauro de sua história, o edifício icônico de 56 anos, projetado pela arquiteta ítalo-brasileira Lina Bo Bardi, dá luz a uma questão que, para a Engenharia, precisa ser cada vez mais difundida: a importância da manutenção para a garantia da segurança das edificações.
Não se trata apenas da ampliação – o Museu deve ganhar mais de 7 mil metros quadrados em relação à área atual, totalizando 17.680m² ao fim da obra que inclui um novo prédio de 14 andares e uma interligação subterrânea entre os dois espaços. Mas, o principal ponto desta restauração está exatamente nas intervenções que estão sendo tomadas no já conhecido MASP para a recuperação estrutural e visual e prevenção de problemas comuns a esse tipo de construção (em concreto armado e protendido).
As escolhas feitas neste processo são fundamentais. Primeiro porque o concreto tem uma característica de microporosidade, que pode ser entendida por buracos vazios que são afetados pelas intempéries, como luz, chuva, vento e poluição. Segundo que, a particularidade desse material, quando somada às condições climáticas e aos anos passados, leva ao surgimento do que chamamos de patologias construtivas, que nada mais são do que ‘doenças’ com potencial de afetar a durabilidade e estabilidade, como fissuras, rachaduras e trincas, por exemplo.
Quando essas patologias são encontradas, é o indicativo de que há algum problema no concreto e, consequentemente, de aumento da porosidade. Ou seja, os fatores externos encontram mais espaço para chegar nos elementos alicerçadores, como a armadura de aço que sustenta um pilar. É aqui que a ação de manutenção mostra seu efeito elementar, o de tratar e manter estável uma edificação durante o seu tempo de utilização.
O mais importante disso tudo é que, sempre que for feita alguma correção, antes devem ser realizados também alguns testes para verificar os produtos e ações necessários para qualquer restauro que seja. De acordo com os relatórios anuais de atividades do Museu, esse procedimento foi mantido até nas menores recuperações. Já nas proporções atuais, que, lembrando, são as maiores registradas no MASP, esse parecer técnico prévio deve ser levado ainda mais a sério.
No caso do cartão-postal mais paulistano possível, nem mesmo a escolha da tinta vermelha, dos químicos de limpeza ou do revestimento aplicado é por acaso, uma vez que proteger o concreto significa também preservar a armadura e demais elementos estruturais, evitando corrosão e problemas futuros. Pois, quando se aplica corretamente o material e a técnica, é possível diminuir bastante os riscos.
Isso é válido em qualquer construção e exige o acompanhamento de um profissional capacitado para tanto, independentemente do porte, e é o que a reforma do MASP nos mostra.
Lígia Mackey
Engenheira civil e presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Estado de São Paulo (Crea-SP)