A voz das ruas

Resido em Barretos há 10 anos. Destes, há 4 anos trabalho como motorista por aplicativo, o popularmente conhecido “Uber” (que é o nome de uma multinacional do segmento e nada tem a ver com os serviços particulares oferecidos). Escolhi esta função como minha primeira opção de trabalho, além das demais fontes de renda. Ela me proporciona diálogo constante com a população barretense, óbvio, transporto vários visitantes, devido à Festa do Peão, Hospital de Amor, mas, posso com segurança que, no mínimo, afirmar que 90% dos passageiros são barretenses.

A linguagem exercida é o português coloquial, o falado no dia a dia, sem preocupação com advérbios, emprego correto do plural, adjetivos cabíveis, ou seja, completamente informal. Em filosofia eu chamaria de senso comum, aquele qual é exercido sem o devido emprego que a liturgia da língua vernácula tenciona. Óbvio, fruto da má qualidade na educação oferecida à população, e também do descanso dos mesmos em buscar por si uma melhor capacitação.

Mas, mesmo que o pensamento seja expressado em forma de senso comum, o que não devemos menosprezar é o pensamento quase total em relação à má gestão da atual administração pública. Nos anos de 2019 e 2020, mesmo com o desgaste dos dois mandatos consecutivos, mesmo com o escândalo dos holerites premiados (lembra deles?), mesmo com o afastamento do exercício da função nos últimos meses de mandato, o ex-prefeito não era tão criticado como a atual prefeita. E olha que jogar a culpa na administração passada não tem causado o efeito que a prefeita gostaria na opinião da população. Já estamos no terceiro ano da gestão e a culpa ainda é do ex-prefeito. Não o estou defendendo, apenas repercutindo a opinião das cerca de 500 a 900 pessoas que transporto por mês.

Demora na reconstrução da ponte de acesso entre os bairros Zequinha Amendôla e Christiano Carvalho, demora na reforma da rua 18 entre as avenidas 33 x 35, demora na reforma da rua 20 entre as mesmas avenidas que até hoje não terminou, demora absurda no cuidado com os matos que tem tomado as calçadas em diversos bairros. O Ambulatório de Referência em Especialidades – ARE I, mas conhecido como “Postão”, que estava passando por reformas, teve as mesmas paradas, e a praça ao lado do Terminal da Integração foi desmontada para a construção de um novo “Postão”, à crítica mais ouvida por mim, em outras palavras é: “Se já se tinha a estrutura e estava reformando, por que não se aproveitou a mesma ao invés de deixar lá abandonado e gastar dinheiro com um novo?”, “E o prédio do Postão, vai ser feito o quê lá?”.

Há questionamentos também da população lá do bairro Santa Cecília, em que foi anunciado o recapeamento das ruas, mas até agora, apenas uma recebeu e as demais são “puro buraco”. O trânsito está caótico em quase toda a cidade, porque a população não tem clareza em saber quais ruas receberão recapeamento para se organizarem em seus traslados. Você passa num local às 8h e tudo bem, às 9h está um caos, porque é fechado sem aviso prévio. Na boca do povo se diz: “Parece que não conversam! É tudo uma bagunça. Joga-se um pouco de asfalto aqui, outro pouco ali, nada organizado, parece que nada é planejado.” É bem verdade, que é louvável o recapeamento, mas, seria melhor de forma organizada e objetiva, até parece que estão aguardando o próximo ano pra concluir as obras. A questão da reforma da praça central nem vou entrar em detalhes, senão este texto vira um livro. O maior questionamento é: “Pra quê gastar dinheiro com isso agora?”. Se estamos em uma Estância Turística, turistas não vão ficar o dia todo tirando foto em praça, convenhamos.

Mães reclamam que ano passado não receberam uniformes para seus filhos. Minha filha estudou até ano passado em creche municipal, particularmente não posso reclamar, principalmente do atendimento das profissionais envolvidas, que sempre lamentando o pouco recurso disponível, faziam o seu melhor. Mas a creche em que ela iria estudar ano passado, entrou numa grande reforma, que até hoje não foi concluída. Até hoje estão utilizando provisoriamente o espaço do Cavalgando para o Futuro, próximo ao bairro Christiano Carvalho. Mais uma vez, causa a sensação que é aguardada o próximo ano para a conclusão da obra.

O poder Legislativo também é algo de críticas constantes. Os vereadores da base da prefeita principalmente. É vereador que vira secretário, é exonerado, volta pra Câmara Municipal para votar em projetos de interesse da prefeita, depois da sessão, novamente é nomeado secretário. É vereador que só sabe dar título de cidadão barretense. E acredito que o aumento salarial não passará desapercebido na próxima eleição. Até a oposição recebe críticas, principalmente os “salvadores da pátria”, que vivem nas redes sociais fazendo politicagem, e também os que são “nervosinhos”.

Em suma, é tanta reclamação, que não dá pra transcrever tudo. Mas, é bom a atual gestão, Executivo e Legislativo, se ainda tem alguma intenção política, trabalhar mais. Muito mais.

Tulio Guitarrari é formado em Filosofia, téc. Contábil e jornalista. E um humilde “Uber”, como alguns virão a dizer.