Jogos Vorazes: quando uma jovem luta para sobreviver e acaba enfrentando um sistema cruel
Dinheiro tem, saúde não
- Túlio Guitarrari é filósofo, técnico contábil, jornalista e pós-graduado em Ciência Política e Teologia.
Ao ler o Jornal de Barretos da última terça-feira (16/12), uma matéria chamou especialmente minha atenção: “Quase metade das emendas parlamentares a Barretos é destinada à Saúde”. Segundo a reportagem, foram destinadas ao município 22 emendas impositivas de deputados estaduais paulistas, totalizando cerca de R$ 8,59 milhões, dos quais R$ 7,28 milhões já foram efetivamente pagos. Desse montante, conforme relatório do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCESP), 48,31% — ou seja, R$ 4,15 milhões — tiveram como destino a área da saúde municipal. Ao menos dez dessas emendas foram direcionadas especificamente para esse setor, sendo que R$ 3,8 milhões já ingressaram nos cofres públicos.
As emendas impositivas integram o orçamento público e se caracterizam pela obrigatoriedade de execução pelo Poder Executivo, conforme indicação do Poder Legislativo. Por meio desse instrumento, os deputados estaduais definem prioridades no planejamento das políticas públicas, indicando se os recursos devem ser aplicados nas esferas federal, estadual ou municipal.
Diante de uma saúde municipal que há anos parece internada na “UTI do descaso”, é legítimo reconhecer que R$ 4,15 milhões, por si só, não são suficientes para provocar uma transformação imediata e estrutural no sistema público de saúde de Barretos. Ainda assim, trata-se de um valor relevante e que poderia, ao menos, representar um início de mudança. O problema é que, há muito tempo, vivemos cercados de belos discursos, vídeos bem produzidos e fotos cuidadosamente maquiadas, enquanto a efetividade prática continua sendo mínima.
A pergunta que se impõe é direta e inevitável: esse dinheiro foi direcionado de que forma? Porque, apesar da imagem de normalidade e eficiência exibida nas redes sociais, especialmente no Instagram, a realidade enfrentada pela população parece ser bem diferente. Um exemplo recente foi o vídeo divulgado pelo comerciante Alex Gregório, que expressou indignação diante da situação vivida por sua avó, acamada e necessitando de transporte para realizar um exame às 7h da manhã no Postão. Segundo seu relato, ao buscar auxílio na Secretaria de Saúde, foi orientado a ligar duas horas antes do horário do exame. Sem sucesso, dirigiu-se pessoalmente à Secretaria e ouviu que, caso quisesse, a ambulância só estaria disponível às 9h30.
Relatos como esse não são isolados. Munícipes reclamam com frequência da falta de médicos especialistas nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs), da escassez de medicamentos e do atual horário de atendimento da Secretaria de Saúde, que prejudica especialmente os idosos — seja pela demora excessiva, seja pela falta de sensibilidade e, em alguns casos, de profissionalismo no atendimento.
É importante destacar que a responsabilidade nem sempre recai sobre os profissionais de enfermagem e da linha de frente. Muitos atuam sobrecarregados, sob pressão constante e com receio de perder o emprego. Como em qualquer área, existem maus profissionais, mas a grande maioria demonstra comprometimento e competência. O cansaço extremo, no entanto, interfere diretamente na qualidade do atendimento, resultando em desânimo, desatenção e estresse — consequências sentidas, de forma concreta, pela população, que já chega fragilizada pela própria dor.
E, diante de tudo isso, volto à pergunta inicial: onde está todo esse dinheiro? Não seria possível contratar mais profissionais? Investir de forma consistente na compra de medicamentos para as UBSs? Melhorar a infraestrutura das recepções para oferecer, ao menos, um mínimo de dignidade aos pacientes que aguardam atendimento?
Lembro-me, então, da famosa marchinha interpretada por Gal Costa: “Onde está o dinheiro? O gato comeu e ninguém viu…”. A sensação é exatamente essa. Muito dinheiro para pouco resultado. Resta torcer para que, em algum momento, o problema seja finalmente encarado com seriedade — e resolvido.
Paz e bem.

