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Quando o Natal revela o tamanho da ambição de uma cidade — e o tamanho da falta dela
Há momentos em que o Natal ilumina mais do que ruas, praças e fachadas. Ele ilumina escolhas políticas, prioridades administrativas e, sobretudo, o espírito coletivo de uma cidade. E, quando a gente olha para o interior paulista neste fim de ano, uma verdade salta aos olhos com a força de um pisca-pisca de LED: Barretos merece mais. Muito mais.
Enquanto Ribeirão Preto acende meio milhão de luzes, inaugura programação com coral, desfile, “Homem de Luz”, cenários instagramáveis e um Papai Noel que atravessa bairros inteiros em um Noel Móvel que parece ter saído diretamente de um parque temático, Barretos acende… a rotatória. Literalmente.
E antes que alguém diga “ah, mas Ribeirão Preto é maior”, vale lembrar: proporção não explica ambição. Sertãozinho — muito menor — fará show gratuito da Ana Castela, Parada de Natal estruturada, concerto da Orquestra Jovem, produção profissional e ruas tomadas de atrações para famílias. Olímpia, então, nem se fala: concerto da Sinfônica de Ribeirão Preto logo na abertura, Mercado de Natal diário, Casinha do Noel com programação até 23h, cortejos, espetáculos, teatro infantil, corais, dança, tradição. Uma cidade que entende que Natal não é só evento: é experiência coletiva e política pública de cultura, turismo e economia.
Barretos, por sua vez, apresenta um esforço tímido. Um Natal simpático, mas pequeno. Uma celebração que cumpre tabela — e nada mais. Afinal, como esperar um espetáculo grandioso se o discurso oficial ainda se limita ao mantra do “embelezar a cidade e ajudar o comércio”? O Brasil profundo já entendeu que Natal é muito mais do que isso: é identidade, é pertencimento, é economia criativa, é calendário de eventos, é estratégia turística, é aposta na autoestima do cidadão.
E aqui entra o ponto central, aquele que dói, mas precisa ser dito: não falta dinheiro em Barretos — falta projeto.
Em audiência pública, a Prefeitura apresentou previsão de arrecadação de R$ 1,1 bilhão para 2025. Isso mesmo: bilhão, com B de Barretos. Desses, R$ 943,2 milhões só da própria Prefeitura. Uma cidade bilionária que entrega um Natal burocrático enquanto cidades vizinhas — com bem menos caixa — entregam espetáculos dignos de regiões metropolitanas.
Não é sobre pisca-pisca.
Não é sobre Papai Noel.
É sobre visão.
Ribeirão Preto compreendeu que o Natal Luz não nasce sozinho: ele se constrói há 23 anos com parceria entre poder público e iniciativa privada, com fortalecimento do comércio de rua, com descentralização cultural (“Noel Móvel” em 24 bairros!), com cenografia que cria memória afetiva.
Sertãozinho, ao celebrar 129 anos, oferece uma agenda que movimenta comércio, gastronomia, hotelaria, artistas locais, crianças — e que coloca a cidade no mapa regional.
Olímpia faz o que Olímpia sempre faz: investe alto em ser destino, porque entende que cultura e turismo andam de mãos dadas.
E Barretos?
Barretos assiste.
Barretos observa.
Barretos aceita pouco — quando poderia querer tanto.
É hora de virar a chave.
É hora de cobrar mais.
É hora de assumir que uma cidade de R$ 1,1 bilhão de arrecadação tem obrigação de sonhar grande.
Sonhar grande não custa caro.
O que custa caro é continuar pequeno.
O Natal — esse período que ilumina tudo — está iluminando também o óbvio: não se trata de comparar cidades, mas de comparar mentalidades. Há cidades que disputam visitantes, eventos, experiências e oportunidades. E há cidades que se contentam com o mínimo.
Barretos precisa decidir em qual grupo quer estar.
Porque o Natal passa.
Mas a falta de ambição fica.
E Barretos — essa cidade vibrante, criativa, cheia de história, cheia de gente talentosa — merece muito, muito mais do que um Natal acanhado e um futuro modesto.
O povo merece mais luz.
Mais cultura.
Mais festa.
Mais orgulho.
Mais cidade.
E, acima de tudo, mais vontade política de fazer Barretos brilhar o ano inteiro — e não só na rotatória.
