Marcelo Witzel planeja gestão estruturada para fortalecer o BEC e aproximar a torcida
Ser: alguém se lembra como é ser?
- Túlio Guitarrari é filósofo, técnico contábil, jornalista e pós-graduado em Ciência Política e Teologia.
Sinceramente, não sei sobre o que escrever desta vez para esta coluna de opinião. Normalmente, tenho várias ideias. A dificuldade costuma ser: “Sobre o que escrever, dentre tantas possibilidades?”
Mas hoje não. Nesta quinta-feira (30/10), após acompanhar tudo o que tem acontecido nos últimos dias, parei diante do monitor e, simplesmente, uma agonia tomou conta de mim. Não sei sobre o que escrever — embora queira falar sobre algo que, particularmente, me fascina: a essência humana.
Às vezes fico pensando o que leva uma pessoa, entre tantas possibilidades, a escolher aquilo que, socialmente, é considerado o “caminho do crime”. Qual é a real necessidade de viver em um ambiente onde as pessoas sentem medo de você? Não respeito, mas medo.
Eu, como pai, preocupo-me diariamente em dar bons exemplos para que minha filha me respeite — e jamais tenha medo de mim. Se eu a educasse pelo medo, acabaria perdendo-a. O medo um dia se esvai; o respeito, esse permanece.
O trágico acontecimento no Rio de Janeiro, por exemplo, não começou no dia 28 de outubro. Vem sendo construído há anos — por má gestão de políticos corruptos eleitos como governadores, deputados, prefeitos e vereadores, somada à omissão do governo federal. Também por isso. Mas, principalmente, pelas más escolhas de pessoas que, em algum momento da vida, acharam que “ser alguém” seria possível mesmo que, para isso, precisassem se envolver com o crime.
A vida é feita de escolhas. Às vezes nos equivocamos, e nossas decisões não são as mais acertadas. Mas sempre há a possibilidade de escolher novamente, de mudar, de recomeçar.
Agora, insistir em escolhas erradas vai nos transformando em pessoas que não são “legais”. Ser alguém na vida é ir além: é lutar para crescer e mudar de vida sem precisar se tornar alguém que ninguém quer por perto. Ou será mesmo que os traficantes do Rio de Janeiro desejam conviver socialmente com a “rapaziada das bocas”?
Eles são usados — e descartáveis. Como foram.
Os líderes fugiram pela mata, vangloriando-se em vídeos gravados por eles mesmos, enquanto os que apenas queriam “ser alguém”, hoje, não são. Não estão mais aqui. E quem, além de suas famílias, está os sepultando?
Há quem ache bom que tenham morrido. Esse seria um debate ético gigantesco.
“Eram bandidos”, muitos dirão. Sim, estavam no mundo do crime. Não os considero “vítimas da sociedade”: são responsáveis por seus atos e colheram o que plantaram, infelizmente. Se queriam “ser alguém”, escolheram o lado errado.
O que me pergunto é: o que os levou a essa escolha?
Se compararmos o presente com um passado não tão distante, veremos que o Brasil começou a desandar quando deixou de investir em educação. Quando o respeito nas escolas — especialmente pelos professores — deixou de ser praticado.
Hoje, já não se canta sequer o Hino Nacional.
Perdemos o senso de patriotismo? Ou ele foi, aos poucos, retirado?
As famílias estão desestruturadas. Sim, há escolhas equivocadas. Mas também faltam políticas públicas que fortaleçam a família, a educação e o respeito. O país, há anos, vem sendo moldado à divisão e ao hedonismo narcísico.
Isso significa: “O que importa é o que eu quero.”
Quando deixo de pensar no coletivo, passo a impor — não a conquistar. E quem impõe não é admirado. Quem conquista respeito, sim.
Ser alguém é, sobretudo, preocupar-se com o outro.
Ninguém vive sozinho, e quem deseja que o outro faça apenas o que ele quer, não sabe viver em sociedade. Somos seres relacionais. Se não sei me relacionar, não sou — apenas estou.
Estou na vida de um modo tal que, um dia, em vez de lamentarem minha partida, talvez a comemorem.
E, quando recordarem, será para apontar: “Você quer ser igual àquilo?” — tratado por “aquilo”, não por “alguém”.
E, então, deixarei de ser um ser.
Paz e Bem!

