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O colapso fabricado: o discurso que prepara a privatização do SAAE

 O colapso fabricado: o discurso que prepara a privatização do SAAE

Na coletiva de sexta-feira (17), o prefeito Odair Silva encenou um drama político clássico: a tragédia anunciada de que poderá comprometer o abastecimento de água na cidade. Rodeado de assessores, falou em “dias difíceis”, “contas de energia impagáveis” e “colapso financeiro” do SAAE. Tudo por causa da liminar que suspendeu o reajuste de até 73% nas contas de água. Ora, é preciso dizer: quando um gestor fala em crise demais, geralmente está preparando o público para a privatização.

Odair tentou transferir a culpa para os vereadores Rodrigo Malaman e Jonathas Lazzarotto, que acionaram a Justiça contra o aumento. Mas, na verdade, ele está montando a narrativa da inviabilidade. É o velho roteiro da “crise inevitável”: dramatiza-se a falência, aponta-se um culpado e, depois, apresenta-se a “solução técnica” — a entrega do serviço à iniciativa privada.

O discurso do prefeito e do procurador Bruno Freitas é repleto de palavras-chave desse processo: “regulação externa”, “transferência de responsabilidades”, “modernização”. Em política, esse vocabulário é o verniz elegante da privatização. Odair tenta convencer que a mudança não é escolha, mas imposição. E, assim, o “problema financeiro” vira justificativa para a venda do patrimônio público.

Mas o enredo não começou agora. Paula Lemos, que perseguiu Guilherme de Ávila por anos, acabou sentindo o gosto amargo do próprio veneno. Judicializou tudo, enfraqueceu o SAAE e, no poder, percebeu que não era tão simples manter o sistema público. Depois apoiou Odair — e o ciclo se repetiu.

A água em Barretos virou símbolo de poder e contradição. Odair joga para a plateia, dramatiza a escassez e cria o clima de medo. Mas cuidado: se os vereadores resolverem dizer em plenário “Prefeito, quem foi eleito para resolver foi o senhor”, o roteiro desaba.

O barretense não quer desculpas, quer solução. E, se não ficar atento, acordará um dia com o SAAE nas mãos de uma empresa privada — e uma conta d’água ainda mais salgada.

Redação

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