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Barretos acorda atrasada para o ESG: 21 anos depois, o futuro finalmente chega


Quando foi que o Brasil, de fato, embalou na agenda ESG — e por que diabos Barretos tardou tanto a fazer seu primeiro fórum em 8 de outubro de 2025? Permita-me dizer: estamos diante de um sintoma flagrante de atraso institucional e de visão curta.
O termo ESG — que sintetiza as dimensões ambiental, social e de governança — nasceu em 2004, no relatório Who Cares Wins, uma provocação das Nações Unidas (por meio do Pacto Global) para que grandes instituições financeiras começassem a internalizar esses fatores na avaliação de risco e valor. Antes disso, já havia movimentos de responsabilidade social corporativa e consciência ambiental, mas o conceito formal de “ESG” só se cristalizou a partir dessa década.
No Brasil, o discurso sobre ESG começou a ganhar tração — ainda timidamente — nos anos 2000. Instituições como o BNDES criaram unidades dedicadas ao meio ambiente já no final dos anos 1980 e 1990, preparando terreno para essa agenda emergente. Nos últimos anos, empresas e investidores começaram a demandar reportes ESG, e órgãos reguladores, como a CVM e o Banco Central, incorporaram exigências de transparência alinhadas à agenda ambiental, social e climática.
No âmbito municipal e público, existe uma escassez de registros sistemáticos de “prefeituras pioneiras” que adotaram formalmente ESG. Mas temos indícios: a prefeitura de Ribeirão Preto (SP) é apontada como uma das primeiras a elaborar um relatório ESG municipal que se conecta com os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Em Curitiba (PR), a Prefeitura, em parceria com o Sebrae/PR e o Instituto Municipal de Administração Pública (IMAP), lançou recentemente um relatório ESG municipal que procura incentivar ações sociais, ambientais e de governança integradas. Também em Piracicaba (SP) emergem programas municipais de certificação ESG, com envolvimento local e regional.
Ou seja: há prefeituras que já vinham tocando essa agenda — ainda que a passos lentos e modulados — em 2022-2024.
Agora, veja o contraste brutal com Barretos: só em outubro de 2025 (ou seja, mais de 21 anos após o surgimento formal do conceito) Barretos promulga o 1º Fórum ESG da Região. Em outras palavras: enquanto o mundo — e empresas brasileiras — já vinham debatendo, medindo, regulando e integrando ESG em estratégias — Barretos permaneceu em letargia.
Por que esse atraso é grave? Primeiro, porque tempo perdido é oportunidade desperdiçada. Empresas locais poderiam já estar construindo vantagem competitiva (eficiência ambiental, atração de capital responsável, reputação) ao longo desses anos. Segundo, porque a falta de cultura ESG local torna mais custosa a incorporação dessas práticas: exige maior esforço de conscientização, treinamento e remediação inicial. Terceiro, porque gestores públicos e empresários que ainda encaram ESG como “modismo” perdem o bonde da atração de investimentos e da regulação mais exigente que está chegando.
Sim, a iniciativa do Sebrae — por meio do programa Mãos pela Água — para promover esse fórum em Barretos é legítima, bem-vinda e necessária. Ela funciona como ponto de inflexão: finalmente, Barretos dá o primeiro passo formal para sair da letargia. O tema “O Futuro dos Negócios – Quem Cuida, Lucra” é certeiro: quer convencer empresários e gestores de que ESG não é custo extra, mas fonte de valor sustentável. O painel de cases regionais e a palestra de Ana Tomazelli “Sem Gente Não Tem ESG” têm potencial para “iluminar mentes adormecidas”.
Mas atenção: para não virar evento simbólico ou marketing verde, esse fórum precisa ser o pontapé inicial de política pública continuada — com metas, métricas, governança local e integração com as empresas da região. Sem isso, volte-se um ano depois e veremos o mesmo atraso.
Portanto conclamo: que Barretos não seja parte da estatística do atraso, mas do salto. Que esse fórum seja apenas o primeiro chordá — como diria quem estuda redes — de uma sinfonia ESG regional. Que gestores, empresários e cidadãos combinem: quem cuida lucra — e quem demora paga. Façamos deste 8 de outubro de 2025 um marco simbólico — mas especialmente prático — da virada de Barretos para o presente sustentável que o Brasil já vive.
