Ainda existe política pura?


- Túlio Guitarrari é filósofo, técnico contábil, jornalista e pós-graduado em Ciência Política e Teologia.
No universo político, sabemos que, infelizmente, nem todos ingressam com as melhores intenções. Há sempre aqueles que não estão na política pelo bem comum, mas sim pelo que podem obter em benefício próprio. Por isso, é fundamental observar atentamente não apenas os integrantes do Poder Executivo, mas também os do Legislativo, em todas as esferas, e, sobretudo, seus assessores, responsáveis pelo trabalho de bastidor — muitas vezes, pelo chamado “trabalho sujo”.
Vale recordar uma reflexão: “Não é o político que se torna corrupto, é o corrupto que se torna político.” E ele consegue chegar lá porque outro corrupto votou nele. Nesse caso, o eleitor, ao aceitar trocar seu voto por algum favorecimento, se torna tão corrupto quanto o eleito. Traduzindo para a linguagem popular, basta substituir a palavra corrupto por ladrão: “Não é o político que se torna ladrão, mas o ladrão que se torna político.” E esse ladrão é eleito com o voto de outro ladrão. Afinal, quando alguém troca seu voto por um favor, esse benefício é pago com dinheiro desviado dos cofres públicos. E assim, o eleitor se torna tão ladrão quanto aquele em quem votou.
Alguém pode questionar: “E os que eram bons e se corromperam?” A resposta é dura, mas necessária: a natureza humana é falível, todos estão sujeitos a erros. Um bom político pode, infelizmente, ceder à tentação de levar vantagem ou trocar seu voto em plenário por algum benefício. Veja bem: pode acontecer — mas não deveria. O verdadeiro problema surge quando esse erro deixa de ser um deslize e passa a se repetir. Uma falha isolada até pode ser perdoada; já a prática constante de vantagens indevidas precisa ser julgada nos foros legais e punida com o devido rigor.
Existe um termo, muito conhecido nos bastidores, mas raramente divulgado: “política fisiológica”. Conhecido porque muitos a praticam; pouco divulgado porque expõe a verdade. Ela ocorre quando o ator político pensa apenas em interesses próprios e na manutenção do poder. São aqueles que, em campanha, fazem belos discursos que não passam de mentiras e hipocrisia. Conhece algum político assim? Ou mesmo algum assessor?
A política fisiológica é fácil de identificar: basta observar quando o discurso e a prática não coincidem. O político que fala uma coisa e faz outra não está comprometido com o bem comum. Ele não é agente político; é corrupto. Ou, no popular, um ladrão em busca de oportunidade para enriquecer com o dinheiro público — dinheiro que deixa de chegar à educação, à saúde, à segurança, à infraestrutura.
Por isso, pense a respeito. Se você, eleitor, troca seu voto por favores, também é corrupto. Se é ingênuo, deve deixar de sê-lo. A política em si é pura, necessária e fundamental para o bem comum. O problema não está nela, mas nos corruptos — eleitos por outros corruptos ou por ingênuos — que a desvirtuam em favor da política fisiológica, e não da política verdadeira.

