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Você conhece algum político?

 Você conhece algum político?
  • Túlio Guitarrari é filósofo, técnico contábil, jornalista e pós-graduado em Ciência Política e Teologia.

A palavra “política” é definida como a ciência moral normativa do governo da sociedade civil. Popularmente, é conhecida como a “arte de bem governar, buscando o bem comum a todos”. Partindo desse pressuposto, o bom político deve saber dialogar: falar o que pensa e ouvir o que os demais têm a dizer, concordando ou não. Afinal, expressar a própria opinião não significa que ela será aceita pelos outros.

Quem melhor argumenta, ou seja, quem melhor pratica a política, consegue, pela palavra, convencer os discordantes ou, ao menos, fazê-los respeitar o ponto de vista apresentado. Já o mau político é aquele que, valendo-se do cargo, impõe sua vontade, não aceita questionamentos, não sabe conviver com o contraditório e sequer gosta de ouvir os demais. Muitas vezes, age assim porque sabe que não tem argumentos e, diante disso, sua falta de sensatez política é facilmente desmascarada. O bom político pode até não concordar, mas respeita a opinião da maioria. O mau político, ao contrário, é tóxico ao meio em que convive: não aceita, apenas impõe.

Com base nesse conceito, entendo — como já mencionei em outros artigos — que o senhor prefeito não tem a mínima capacitação política. Não sabe conviver com o contraditório e não gosta de ser questionado. Minha afirmação não se apoia apenas em relatos de que ele teria desrespeitado vereadores em seu gabinete, chegando quase às vias de fato com um deles. O caso foi noticiado por este jornal, que é independente, embora negado por pessoas próximas tanto ao prefeito quanto ao parlamentar. Dizem, inclusive, que a turma do “deixa disso” precisou agir rapidamente.

Mais recentemente, o prefeito demonstrou sua incapacidade política ao chamar um vereador de “vereadorzinho”. É claro que ele tem o direito de discordar das críticas feitas nas redes sociais. No entanto, deveria ter usado a palavra para contra-argumentar, apontando eventuais equívocos. Preferiu se autoafirmar, como se o cargo lhe desse superioridade sobre qualquer cidadão, resumindo sua fala em algo como: “quem sabe sou eu, porque sou o prefeito, não um vereadorzinho”. Imagine se o vereador tivesse respondido chamando-o de “prefeitinho”? Felizmente, o parlamentar manteve o respeito à figura do chefe do Executivo e, principalmente, à liturgia do cargo. Atitude bem diferente da do senhor prefeito.

Trago também o princípio lógico da não contradição, de Aristóteles, segundo o qual uma proposição não pode ser verdadeira e falsa ao mesmo tempo. As palavras do prefeito, muitas vezes, não correspondem às suas atitudes — e vice-versa. Exemplo disso é a Estação de Tratamento de Água (ETA) do Rio das Pedras. Já a citei em artigo anterior para destacar a ingratidão do prefeito e volto ao tema para reforçar: a obra começou no governo de Emanoel, foi retomada por Paula Lemos e só concluída no governo Odair. Mas ele afirma que, em apenas oito meses de gestão, conseguiu garantir o abastecimento de água em Barretos. Além de ingrata, a declaração é contraditória. O prefeito colocou apenas a “cereja no bolo”: não comprou os ingredientes, não pôs a mão na massa e praticamente não fez 95% da obra. Ainda assim, quis os “louros da vitória” apenas para si, sem sequer convidar os antecessores para a inauguração. Um bom político reconhece a virtude alheia. Obras daquele porte não se constroem em oito meses. Ele quis, popularmente falando, “ser o pai da criança, mesmo sem ser”.

Lembro ainda que o prefeito não compareceu, nem enviou representante, à homenagem prestada ao Dr. Uebe na Câmara Municipal, ocasião em que diversos ex-prefeitos estiveram presentes para reconhecer sua importância e valor político para a cidade.

Se formos elencar todas as contradições, este artigo se estenderia demais. Basta citar, por exemplo, a obra da Avenida Engenheiro Necker: prometida para agosto, depois para novembro, com promessa de liberação antes da Festa do Peão — e ainda com obras nas ruas paralelas. Quanto à própria Festa do Peão, melhor nem detalhar, para não acirrar ainda mais os ânimos de servidores públicos já insatisfeitos com questões financeiras. Apenas um ponto: se a prefeitura não tinha verba para realizar o tradicional desfile cívico de aniversário da cidade, como teve para manter camarote no evento?

Você que me acompanha deve se lembrar de que já questionei a prática do prefeito de usar suas redes sociais apenas para divulgar aspectos positivos de sua gestão. Até aí, está em seu direito. O problema é que, quando surgem situações negativas, ele se cala e delega a resposta a secretários, vereadores ou outros aliados. Foi assim com o aumento da tarifa de água. Alguém viu o prefeito justificando a medida? Ele apenas “agendou” uma audiência pública na Câmara Municipal, após já ter consumado o reajuste, descumprindo o prazo mínimo legal de 15 dias e sem ampla comunicação à população. De um dia para o outro, numa sexta-feira, às 9h30, convocou a audiência. Nessa condição, era para a população participar ou não? Claro que não. A audiência aconteceu sem público e, na lógica do prefeito, quem não compareceu não pode reclamar. Eis a “forma Odair” de ouvir o povo.

Não me limito a Barretos: pergunto ao leitor, no Brasil, você conhece algum político que age de acordo com suas palavras? Reconheço poucos. Em Barretos, eles existem, mas precisamos peneirar bastante. São pouquíssimos.

Redação

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