Barretos não pode calar sua imprensa
No debate sobre os investimentos públicos em comunicação, deve sempre prevalecer o interesse coletivo. Em Barretos, infelizmente, uma lei recém-aprovada ameaça esse princípio ao impor limites severos aos gastos da prefeitura com publicidade institucional. A Lei Municipal nº 7.154/2025, proposta por nove vereadores, pode até parecer bem-intencionada em alguns de seus pontos — como a proibição de uso eleitoral da publicidade e a exigência de relatórios trimestrais com transparência —, mas esconde por trás de suas linhas uma grave tentativa de enfraquecer os meios de comunicação tradicionais da cidade.
A recente carta aberta assinada pelos principais veículos de comunicação de Barretos — O Diário, Vale TV, Jornal de Barretos, Jornal A Cidade, Jornal O Povo e Jornal Vitrine — é um grito por socorro. Trata-se de um alerta à população sobre ações políticas que, segundo os próprios jornais, buscam sufocar economicamente empresas sérias, comprometidas com o jornalismo profissional e com a verdade.
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Não se trata de defender abusos ou gastos irresponsáveis. É legítimo que haja transparência e critérios. O que não se pode aceitar é a tentativa velada de silenciar a imprensa profissional, submetendo-a a um estrangulamento financeiro que pode comprometer sua existência. Quem conhece os bastidores da comunicação local sabe: viver apenas da publicidade de comércios locais é quase impossível. Os veículos precisam do apoio institucional para sobreviver — e não se trata de privilégio, mas de parceria com a sociedade para a informação de interesse público.
Além disso, Barretos é uma das raras cidades do interior que ainda resiste à extinção dos jornais impressos, mantendo viva essa tradição cultural e jornalística. Com muito esforço, os diários locais ainda publicam suas edições físicas, mesmo com a redução drástica de páginas — eram 12 páginas, hoje apenas 8.
Enquanto isso, prolifera na cidade um verdadeiro caos informativo nas redes sociais. Páginas anônimas, de origem duvidosa, muitas vezes comandadas por pessoas sem formação jornalística, publicam conteúdos sem checagem, misturam humor com notícia, ironia com informação, e ainda se autodenominam democráticas — mas bloqueiam comentários, apagam críticas e não seguem qualquer código de conduta jornalística.
Essas páginas vivem do ataque pessoal, da desinformação, da fofoca e da conveniência política. Em contrapartida, os veículos profissionais, com CNPJ, equipe técnica, jornalistas formados e compromisso com a ética, estão sendo punidos. Essa lei, ainda que não mencione diretamente a imprensa, cria um terreno árido e insustentável para a comunicação séria sobreviver.
É preciso entender que comunicação pública não é promoção pessoal. Mas também não pode ser sinônimo de censura. Impedir a circulação de campanhas institucionais — como as de vacinação, saúde, educação e orientações à população — é prejudicar o próprio cidadão. E além da imprensa, também serão afetados os profissionais de som volante, empresas de mídia externa e outros prestadores de serviço da cadeia comunicacional.
A união dos veículos de Barretos nesta causa é histórica. Mostra que ainda existe força e coragem para resistir à tentativa de enfraquecer a imprensa profissional e de transformar a cidade em um território dominado apenas pela gritaria virtual das redes sociais.
Mais grave ainda é perceber que parte dos vereadores autores dessa lei, em vez de buscar de fato o equilíbrio entre responsabilidade fiscal e liberdade de imprensa, agem movidos por vingança e ressentimento contra os veículos que cumprem seu papel jornalístico. Usam a narrativa de que estão defendendo a população e os cofres públicos, quando na verdade tentam silenciar críticas e dificultar o trabalho da imprensa livre.
A incoerência é evidente: alguns desses parlamentares que hoje discursam contra o “gasto excessivo” com comunicação pública, votaram a favor de projetos que criam novos cargos comissionados, como assessores extras, ou medidas de apadrinhamento político — os chamados “cabides de emprego”. É no mínimo contraditório se dizer defensor dos recursos públicos enquanto se aprova leis que ampliam a máquina para benefício próprio. A hipocrisia salta aos olhos.
Barretos não pode perder sua imprensa profissional, tradicional e comprometida com a verdade. Defender os veículos de comunicação da cidade é defender o direito de ser informado com responsabilidade, ética e pluralidade. É lutar para que a população tenha acesso a informações de qualidade e não fique refém do barulho irresponsável das redes sociais.
Samuel da Silva
Jornalista responsável pelo Portal Notícias Colômbia SP, sob o registro profissional 0091105/SP.