Onde a verdade encontra a democracia.
DESDE 2015

Barretos e a crônica do colapso anunciado: uma aula prática de como quebrar uma cidade

 Barretos e a crônica do colapso anunciado: uma aula prática de como quebrar uma cidade
  • Editorial é a opinião institucional do veículo de comunicação.

Vou direto ao ponto: o que aconteceu em Barretos em 2024 é um retrato escancarado do Brasil municipal, aquele que ninguém quer olhar de perto. Sabe por quê? Porque dói. Porque é feio. Porque revela, com todas as letras, como prefeitos, vereadores e gestores públicos, ano após ano, cavaram um buraco tão fundo que já dá pra acenar pro núcleo da Terra.

A Audiência Pública realizada na Câmara Municipal mostrou, com números e tabelas, uma realidade que os políticos adoram esconder em discursos fofos: Barretos está pendurada no cheque especial da própria história. Isso não é só sobre 2024 — é sobre décadas de má gestão, de acomodação e, claro, de populismo fiscal. O famoso “empurra com a barriga”.


Uma aula prática de “como gastar mais do que arrecadar e depois pedir socorro”

Vamos aos fatos — que são sempre mais teimosos do que as desculpas:

🔴 A Prefeitura arrecadou 2% a mais do que o previsto. Excelente? Não. Gastou quase tudo e mais um pouco! Sobrou o quê? Sobraram promessas não pagas e uma pilha de dívidas empilhadas pro próximo ano. Restos a pagar são como aquele cartão de crédito parcelado: parece pequeno agora, mas te estrangula depois.

🔴 O SAAEB — o serviço de água e esgoto — arrecadou 18% a menos do que o esperado. Isso, pra um cientista político, é sinal de incompetência crônica. Ou a tarifa é mal calculada, ou ninguém fiscaliza a arrecadação. Ou os dois. O resultado? Um rombo de R$ 16 milhões. Água escoando dinheiro público pelo ralo.

🔴 E o IPMB? Ah, a bomba-relógio da previdência municipal. Arrecadou 10% menos e gastou praticamente tudo. Isso é gravíssimo. Quando um sistema previdenciário opera no limite, significa que o futuro já chegou — e ele chegou cobrando caro.


Contraponto: e a Câmara?

Ah, a Câmara! Devolveu R$ 3,5 milhões à Prefeitura. Palmas? Talvez. Mas não sejamos ingênuos: devolver é fácil quando o Legislativo se comporta como figurante do orçamento. Quais políticas públicas relevantes saíram da Câmara em 2024? Quais projetos de lei garantiram que esse dinheiro fosse bem usado? Isso ninguém responde.


Mas o que isso tudo revela?

Barretos é uma miniatura do Brasil. Um Brasil onde:

✅ Todo mundo quer gastar mais. ✅ Quase ninguém quer cortar gasto inútil. ✅ Todo mundo tem medo de mexer em privilégios (alô, previdência municipal!). ✅ E, claro, aumentar imposto é sempre a tentação preferida.

Essa engrenagem é velha, conhecida e mortal. Barretos, como tantas outras cidades, está em estado de calamidade fiscal disfarçada de rotina administrativa. E sabe o que é pior? Todo mundo já sabia que ia dar nisso. Não é uma surpresa. É uma escolha política. Prefeitos anteriores sabiam, a Câmara sabia, sindicatos sabiam, o IPMB sabia, o SAAEB sabia — e o eleitor, se não sabia, foi porque nunca quis saber. A verdade estava ali, jogada na praça pública, mas todo mundo passou reto.


E agora, José?

Agora? Agora é hora de parar de dourar a pílula. É hora de entender que a prefeitura de Barretos é refém de si mesma. Com uma dívida total de R$ 576,8 milhões, sendo quase R$ 500 milhões só de dívida previdenciária, o futuro de Barretos já está hipotecado.

Sabe o que isso significa? Significa que, mesmo que Barretos cresça, gere emprego, atraia empresas, modernize serviços, boa parte dessa riqueza vai pagar dívida velha. É o que eu chamo de prefeitura zumbi: ela anda, mas não vive. Ela funciona, mas não respira.


Quer solução? Tá pronto pra doer?

Eu sei que não é sexy falar isso, mas não tem outro caminho:

🔨 Revisão tarifária urgente no SAAEB. Se a conta não fecha, alguém tem que pagar — ou o usuário ou o contribuinte. Água barata e rombo milionário é a conta que não fecha.

🔨 Reforma previdenciária local. Ninguém quer, mas ou mexe ou quebra. Simples assim. Aposentadoria integral? Esquece. Idade mínima? Sobe. Contribuição patronal? Recalcula. Tá tudo errado.

🔨 Revisão dos gastos da prefeitura com folha. Todo mundo adora contratar, mas ninguém quer cortar. Concurso público virou presente político. Precisa profissionalizar a gestão pública e colocar meta de eficiência por secretaria.

🔨 Mais fiscalização cidadã. Essa audiência pública precisa virar reality show municipal, com transmissão ao vivo e replay nos grupos de WhatsApp. O eleitor de Barretos precisa sentir no bolso cada decisão orçamentária.


E o eleitor? O papel do povo nesse samba?

Cidadão de Barretos, você não é coadjuvante. Você é sócio dessa prefeitura. Quando a cidade quebra, quem paga é você — com menos saúde, menos educação, menos obra e mais imposto.

Chega de achar que Audiência Pública é só formalidade. É ali que a cidade conta pra você onde tá te roubando o futuro. Se você não se interessa, o político agradece — porque quem decide no seu lugar é ele.


Resumo da ópera (ou do circo)

Barretos 2024 foi o episódio novo da velha série chamada “O Brasil quebra aos poucos”. A pergunta é: em 2025, você quer assistir passivamente o próximo capítulo ou quer escrever uma nova história?

A escolha é sua. E o preço também.

Redação

Relacionado

Ops, você não pode copiar isto!