Tucano com nova plumagem promete voos de águia
- Túlio Guitarrari é filósofo, técnico contábil, jornalista e pós-graduado em Ciência Política e Teologia.
O deputado federal Aécio Neves (MG) assume hoje a presidência nacional do PSDB com o discurso de que o partido não pretende lançar candidatura própria à Presidência da República em 2026. “Não é uma obsessão nossa agora. Provavelmente será em 2030”, afirmou.
Aécio acredita que, no próximo ano, mesmo que Lula seja reeleito, a polarização com Bolsonaro não deve perdurar. “Com esses atores fora, reabre-se uma avenida. Existe um espaço esperando o PSDB.” O novo presidente cita Tarcísio de Freitas (Republicanos) como um possível nome do centro, desde que ele diminua o ativismo bolsonarista: “Se estiver disposto a ter uma agenda que é do país, não a do bolsonarismo.”
Confesso que, em determinado período da minha vida, eu imaginava que vivíamos sempre uma “temporada de caça ao tucano” — mera figura de linguagem referente ao partido. Mas, antes que alguém interprete de forma equivocada, eu não era petista. Há muito tempo, porém, considero que a renovação do PSDB é necessária. Não acredito que a polarização seja benéfica. O “nós contra eles” só favorece o PT, especialista em narrativas desse tipo. Assim, a disputa PT x PSDB, e mais recentemente PT x PL — ou melhor, Lula x Bolsonaro — não traz nada de útil ao debate público, funcionando apenas como um mecanismo de polarização permanente. A renovação dos tucanos pode oferecer um novo norte, uma alternativa, especialmente com a filiação de Ciro Gomes, que no PDT não encontrava mais espaço político para crescer.
Em Barretos, o partido também tem sentido, nas últimas eleições, o processo de esvaziamento que atingiu o PSDB nacionalmente. Bons nomes deixaram a legenda. Recordo-me de um episódio — se não me falha a memória, em 2023, embora não me recorde exatamente a data. À época, trabalhando como motorista de aplicativo, atendi o ex-prefeito Guilherme Ávila. Levei-o de sua casa até a UBS do bairro São Francisco, onde trabalharia naquele dia. Durante a viagem, perguntei se pretendia concorrer novamente a algum cargo. Ele respondeu que ainda era cedo para pensar nisso, mas adiantou que, naquele mesmo dia, se desfiliaria do PSDB.
Guilherme conquistou duas eleições pelo partido. Em sua reeleição, em 2016, elegeu quatro vereadores, somando 10.904 votos distribuídos entre 16 candidatos à Câmara. Já em 2020, a então candidata Drª Gláucia obteve expressivos 20,79% dos votos válidos, e o partido conquistou duas cadeiras. Naquele pleito, com 21 candidatos, o total de votos válidos caiu 47%. Em 2024, Tatiane Muzetti acabou efetivada apenas em razão da inelegibilidade momentânea do Dr. Emanoel. Naquela eleição, o PSDB lançou apenas 10 candidatos a vereador, somando 545 votos.
O presidente do PSDB em Barretos, Manoel Messias, afirmou que aguardará a nomeação oficial de Aécio para a presidência nacional e as orientações que virão de Brasília para, com prudência, definir os rumos do diretório municipal: “O partido está se reestruturando e, se for para melhorar, tem meu apoio.”
Com um partido da relevância histórica do PSDB retornando ao páreo nacional, quem ganha é o debate democrático. Sua ausência foi sentida na eleição presidencial de 2022, marcada por candidatos frágeis e pela intensificação da polarização Lula/Bolsonaro. Embora considere Aécio Neves um dos nomes menos éticos para presidir o partido, reconheço que seu discurso indica um ar de renovação — algo que a sigla necessita urgentemente. Espero que o PSDB recupere sua força política e tenha coragem para enfrentar o ambiente polarizado atual, mesmo que seu protagonismo só se concretize em 2030.
Recomeçar exige tempo, e estamos a menos de um ano da próxima eleição. Enquanto isso, outro partido com história e musculatura para confrontar a polarização insiste em atuar como um eterno “assessor” dos protagonistas do conflito. Independentemente de quem esteja na Presidência, o MDB segue como aliado. Por essa razão, em 2016, após 25 anos de filiação, decidi me desfiliar.
Paz e Bem!
