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Mês da Consciência Negra e a memória que insiste em viver: Barretos entre a Festa Italiana e a antiga Igreja dos Pretos

 Mês da Consciência Negra e a memória que insiste em viver: Barretos entre a Festa Italiana e a antiga Igreja dos Pretos
  • Michela Rita, Professora e Historiadora com MBA em Gestão Educacional.

Em novembro, o Mês da Consciência Negra nos chama a revisitar histórias que Barretos não pode esquecer. Entre elas, a trajetória da Igreja de Nossa Senhora do Rosário, hoje sede da tradicional Festa Italiana, mas que nasceu como espaço de fé e resistência da população negra do antigo bairro “Outro Mundo”.

No século XIX, Barretos era dividida entre o Centro, onde vivia a elite, e o Outro Mundo, região precária habitada por ex-escravizados, lavadeiras e operários. Proibidos de frequentar a Matriz do Divino Espírito Santo, esses moradores ergueram, em 1870, a primeira capela dedicada a Nossa Senhora do Rosário. Ali floresciam as Congadas, expressões de espiritualidade afro-brasileira que uniam devoção, música e ancestralidade.

Capela de Nossa senhora do Rosário (Acervo Museu Ruy Menezes)

A primeira capela foi demolida em 1909 para a chegada da ferrovia, mas a comunidade negra persistiu. Um novo terreno foi doado, e mais tarde surgiu a igreja atual, construída em mutirões e marcada pelas pinturas dos “Quinze Mistérios”. O Rosário tornou-se ponto de encontro, de fé popular e de tradições que ajudaram a moldar o tecido cultural da cidade.

Capela de Nossa Senhora do Rosário (Acervo de Walcir Junior)

Com o tempo, o bairro mudou de nome de “Outro Mundo” para “Fortaleza” e o templo passou a abrigar outras festas e públicos. No entanto, sua origem não pode ser apagada. Celebrar a Consciência Negra é reconhecer que o Rosário foi antes de tudo a igreja dos pretos, erguida para acolher quem era excluído dos espaços centrais.

Honrar essa memória é fundamental para que Barretos compreenda sua própria história. O passado do Rosário é parte da identidade da cidade e segue vivo nas lembranças e nas lutas de hoje. Porque, sem reconhecer as raízes negras que sustentaram este território, nenhuma celebração estará completa.

Redação

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