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Democracia, sem crítica?


Barretos recebeu a confirmação daquilo que muitos já sabiam, mas preferiam acreditar nas promessas e nos sorrisos eleitorais: o senhor prefeito não é, de fato, um político. Falta-lhe trato social e habilidade para conviver com críticas. E isso chama atenção, pois, quando atuava como comentarista em uma rádio da cidade — e era um excelente comentarista, com opiniões firmes, argumentação consistente e questionamentos pertinentes — transmitia a impressão de que possuía plena consciência do que dizia. Hoje, porém, parece que tudo não passava de um simulacro, algo previamente elaborado para ser externado no momento oportuno. É difícil acreditar que aquele homem, outrora articulado e seguro, agora simplesmente não admita opiniões contrárias.
Opiniões são subjetivas. São pensamentos inerentes a cada indivíduo, que podem estar corretos ou não. E o senhor prefeito, como bom profissional da fala que é, sabe muito bem que a palavra, quando bem utilizada, tem o poder de convencer, de transformar visões. Esse poder o levou à chefia do Executivo municipal. Conquistou votos de quem já simpatizava com suas ideias e até de quem, a princípio, não votaria nele.
Justamente por serem subjetivas, as opiniões se manifestam de diferentes formas: com seriedade, sarcasmo, humor, brevidade, críticas construtivas ou mesmo destrutivas. E até as destrutivas devem ser respeitadas, pois apresentam um ponto de vista que cabe ao criticado rebater, demonstrando eventuais falhas na argumentação. Como diz o ditado: “Quem não deve, não teme”. Uma crítica destrutiva só desestabiliza quem, de fato, sabe que não cumpre bem o seu papel.
Ao ingressar na Justiça para tentar impedir que um perfil nas redes sociais — “Barretos no Fuxico” — opinasse sobre sua gestão, o prefeito foi diretamente contra o princípio democrático da liberdade de expressão, garantida pela Constituição Federal, em seu artigo 5º, inciso IV, que assegura a todos os brasileiros o direito de manifestar opiniões, ideias e pensamentos sem censura ou interferência do Estado.
A mesma Constituição, no entanto, também estabelece que essa liberdade não é absoluta: há sanções para quem atentar contra a honra alheia. Nesse sentido, se o prefeito se sentiu ofendido, teria legitimidade para acionar a Justiça visando identificar o responsável pelo perfil e, posteriormente, buscar reparação por danos morais, se assim entendesse.
Mas solicitar, de imediato, a exclusão da página afronta o princípio constitucional citado — princípio que ele próprio exercia com destreza enquanto comentarista. Odair poderia alegar que sempre se manifestou abertamente, e nisso estaria correto. No entanto, reitero: que buscasse a via judicial para a identificação do autor, não para silenciar a crítica.
Cabe, aqui, também uma observação ao perfil: é fácil criticar escondido atrás de uma tela. A coragem de expor opiniões deve vir acompanhada da sobriedade de assumir publicamente a autoria.
Ao escolher a vida pública, Odair sabia que encontraria, além de aplausos, espinhos. Por isso, reafirmo: ele não tem demonstrado habilidade para ser prefeito ou político. Segundo relatos, comporta-se como se suas palavras fossem “lei indiscutível”. Mas o bom político não é déspota; não é o que engana com promessas, e sim o que administra buscando o bem comum. É aquele que dialoga, enfrenta adversidades e convive com vozes dissonantes. Tentar calar quem o desagrada não é virtude política.
Vale recordar que o deputado estadual Sebastião Santos (Republicanos), presidente municipal do partido do prefeito, afirmou recentemente, em entrevista ao jornalista Mazinho Dias, que o diálogo com Odair está difícil. Desde a eleição, sequer houve um encontro político entre ambos. Se até o presidente municipal da sigla — deputado em sua terceira legislatura — enfrenta barreiras no diálogo, fica difícil acreditar que o prefeito possua o trato político necessário para administrar a cidade. Gravar vídeos para o Instagram, sozinho, não define o papel de um gestor público.
Tenho sido crítico à condução do município neste início de mandato. Ressalto: minha crítica não é à pessoa física de Odair Silva, mas à sua inexperiência como prefeito. Ao escrever estas linhas, imagino duas possibilidades: ou ele não atribui importância ao que digo — o que lamento, pois críticas visam ao crescimento —, ou sequer lê — o que também lamento, pois perde a oportunidade de refletir. Por outro lado, até me alegra pensar que ele não leia, já que, diante da aversão demonstrada a opiniões contrárias, não correria o risco de receber um convite judicial para “silenciar” sobre a figura pública do prefeito.
Governantes que não respeitam opiniões adversas e tentam cercear o direito de expressão não são democráticos.
Túlio Guitarrari é filósofo, técnico contábil, jornalista e pós-graduado em Ciência Política e Teologia.
