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A saúde de Barretos vai mal. E é aí que está o problema

 A saúde de Barretos vai mal. E é aí que está o problema

Graças a Deus a saúde de Barretos está indo de mal a pior. Sim, graças a Deus. Porque se estivesse bem, o prefeito Odair Silva não teria palco para aparecer no Instagram, com um fundo branco, uma luz de LED e um sorriso ensaiado, dizendo que “estamos avançando”. Avançando onde? No script de marketing, talvez. Na realidade do povo, é retrocesso. E grave.

É preciso dizer: a saúde pública de Barretos não é das piores da região. Mas é exatamente por isso que ela escancara o drama estrutural do SUS nos municípios médios do Brasil. O atendimento é o calcanhar de Aquiles. A dor é constante e a espera também. Você quer marcar uma consulta? Chegue antes do sol nascer. Leve um banquinho, uma garrafa d’água, e prepare-se para ouvir que não tem médico.

Se seu filho precisa de atendimento especializado, você espera semanas — e isso se conseguir. Para cirurgia, é mais fácil ganhar na quina. E tudo isso sem qualquer perspectiva de melhora, porque o município sequer sinaliza vontade política de contratar médicos por concurso, ou qualquer outro meio viável.

A pergunta que o cidadão barretense faz é simples: por que ainda vivemos num sistema de papel, carimbo e fila, enquanto o mundo funciona com um clique? O “Meu SUS Digital” é subutilizado. A prefeitura sequer desenvolveu um app decente para marcações, histórico do paciente ou acompanhamento de exames. Por que diabos, um diagnosticado com TEA, tem que explicar todo mês a mesma história para pegar a mesma receita com o mesmo médico no mesmo sistema de saúde que já deveria saber disso?

Mas não para por aí. Se você tem dor, precisa passar na UBS para depois ser “encaminhado” ao Postão. Como se a dor esperasse. Como se quem trabalha pudesse perder o dia inteiro batendo ponto em unidades de saúde, apenas para ouvir: “volta semana que vem”. E quando a coisa aperta, o destino é a UPA — a mesma que virou sinônimo de lentidão, maus tratos, escândalos abafados e, pior, desesperança.

A UPA de Barretos é gerida pela Fundação Pio XII, que tem méritos no tratamento oncológico — mas que fracassa em dar conta do pronto-atendimento. Ouvimos casos de esperas de 6 horas ou mais, gente sendo maltratada, médicos despreparados e pacientes que morrem calados, sem manchete, sem indignação pública, sem CPI. Onde estão os vereadores que antes faziam barulho por muito menos?

E como se não bastasse, golpistas ligam para famílias pedindo dinheiro para “agilizar” transferências ou exames daqueles que estão na UPA. No desespero, muitos pagam. Porque acreditam que essa é a única saída. E, em muitos casos, é mesmo.

O que vemos é um sistema de saúde que não funciona, mas que dá a falsa impressão de que está andando, porque há lives, vídeos, slogans, hashtags. A gestão moderna do século 21 com a estrutura caótica do século 19.

O povo de Barretos não quer muito. Quer dignidade. Quer um médico, um exame, um transporte. Quer que a dor não precise passar por três unidades para ser tratada. Quer, acima de tudo, que parem de brincar com a saúde como se fosse peça de marketing político.

Entra prefeito, sai prefeito, e a saúde continua a mesma (aquilo que gato faz e coloca terra por cima). E o pior é que a gente nem se indigna mais. Talvez esse seja o sintoma mais grave de todos.

Redação

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