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Cívico-Militares: A armadilha da obediência para os filhos dos outros

 Cívico-Militares: A armadilha da obediência para os filhos dos outros

Estão em andamento em Barretos, em escolas como Benedito Pereira Cardoso, Coronel Silvestre de Lima e Fábio Junqueira Franco, consultas públicas para decidir se essas unidades estaduais devem aderir ao modelo de escola cívico-militar proposto pelo governo do Estado de São Paulo. A proposta vem embalada em promessas de “disciplina”, “ordem” e “melhoria nos índices educacionais”. Mas por trás dessa embalagem de eficiência, esconde-se um projeto político-pedagógico profundamente excludente e desigual.

Sim, reconheço: o modelo cívico-militar pode oferecer mais segurança no ambiente escolar, algum controle de evasão e certa redução de conflitos. Mas é só isso. E esse “só isso” tem um custo altíssimo: o esvaziamento da essência da educação enquanto processo de formação crítica, criativa e libertadora.

O que está sendo vendido como solução é, na verdade, um retorno ao século passado. A presença de militares na escola reforça valores autoritários e hierárquicos. Estamos falando de alunos sendo ensinados a obedecer sem questionar, a alinhar os passos ao som do apito, a calar diante da autoridade. Educação, no entanto, é o contrário disso. É espaço de diálogo, de construção coletiva, de liberdade de pensamento.

Enquanto isso, os filhos da elite seguem confortavelmente matriculados em escolas baseadas nos princípios de Maria Montessori, Jean Piaget, na pedagogia Waldorf, na pedagogia libertadora de Paulo Freire — modelos que incentivam a autonomia, a criatividade, o pensamento crítico e o protagonismo do aluno. São essas crianças que amanhã vão liderar empresas, governos e universidades. Já os filhos dos bairros Rios, Baroni e Christiano Carvalho serão treinados e adestrados para obedecer ordens. Coincidência? Não. Estratégia.

O Estado transfere sua incapacidade de oferecer uma educação pública de qualidade para os quartéis. Troca professor por sargento. Troca debate por silêncio. Troca sonhos por ordem unida. No fundo, é isso: querem que os pobres continuem sendo mão de obra barata e obediente.

A quem interessa uma escola onde pensar é substituído por marchar? A quem interessa a militarização da infância pobre?

Educação não se faz com coturno. Se faz com afeto, liberdade e ciência. Escola cívico-militar não é solução. É rendição. E os barretenses precisam dizer não. Antes que o futuro de seus filhos seja enquadrado… em posição de sentido.

Igor Sorente é jornalista e empreendedor em comunicação, audiovisual e tecnologia.

Redação

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