Rádio faz parte do cotidiano de 79% da população brasileira, diz pesquisa
Língua Portuguesa: beleza em perigo.
Francamente, já inicio reconhecendo que não sou um aprofundando em toda plenitude da língua portuguesa. Sua gramática constituída de sintaxe, morfologia, fonologia e semântica são ricas. É uma das línguas mais faladas do mundo. Não vou aqui me ater nos detalhes de sua gramática. Para isso, consulte um(a) professor(a) de língua portuguesa ou até mesmo consulte o Google, depois que o inventaram, só não aprende algo quem não quer. Verá que ela sofreu alterações de acordo com seu tempo.
Por exemplo: o “você” de hoje já foi “vosmecê” ontem. Num país continental como o Brasil, a língua portuguesa não é homogênea. Há dialetos existentes de acordo com a região do país. Posso cita como exemplo uma iguaria muito consumida pelo país, é chamada na região sudoeste, mais precisamente nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro de mandioca, no nordeste de macaxera e na região sul de aipim. Assim podemos encontrar diversos exemplos, todos dentro da mesma língua.
Agora, o motivo que me levou a refletir e escrever este pequeno artigo, é algo que me ocorreu, de forma singela, nem necessitaria, acredito eu de expô-la. Mas penso que valerá a reflexão, quer você concorde comigo, ou não.
Último domingo, 16 de outubro, estava eu por volta de 23h30 a elaborar um artigo para minha coluna no Portal de Notícias de Colômbia. Conclui por volta de 1h da madrugada já do dia 17. Óbvio que não foram 1h30 escrevendo diretamente. Parava, analisava. Pausa para um café com bolo de chocolate. Água para hidratar. Banheiro.
Enfim, não estava com pressa. Sabia que domingo acontecera o debate presidenciável do 2º turno das eleições, mas francamente, não tive nenhum interesse em acompanha-lo. O placar, já pressupunha e me parece que foi o que ocorreu mesmo foi: Propostas 0 x Ofensas Pessoais 10. Conclui o artigo, encaminhei ao responsável, e fui me deitar.
Antes, uma última olhadinha nas notícias e fiquei estarrecido ao descobrir que agora, a palavra “denegrir” passou a ser vinculada como de cunho racista. Passei 46 anos de minha vida acreditando que o sentido figurado da palavra era “desmerecer”, “desdenhar”, “dar sentido pejorativo” a algo ou alguém. Sempre aprendi, com excelentes professores de língua portuguesa que a beleza da língua está também no emprego de metáforas, dos sentidos figurados. Mas, agora, uma pequena parte da sociedade, resolveu definir que, por seu sentido efetivo que é “tornar escuro” “escurecer”, etc, dá sentido racista se ela for empregada no sentido figurado. O candidato fez o emprego da palavra em sua frase, e o pessoal favorável à esquerda começou a chama-lo de racista. Segunda pela manhã, entrei em contato com o Samuca, e pedi a gentileza de antes de publicar o artigo, alterasse “denegrir”, que eu havia utilizado no texto, sem imaginar o que já estava acontecendo na internet, por “desmerecer”. Por receio de lacradores? De forma alguma!
Apenas pra evitar a fadiga de perder meu tempo em tentar faze-los compreender, que o emprego da palavra para ter uma transformação deve-se ir com calma, respeitando os contraditórios, conquistando território pelo diálogo, não por ofensas na internet. O absurdo é tamanho, que, se se continua assim, brevemente deixaremos de ter a língua portuguesa para criarmos a “língua brasileira”, somente para agradar essa minoria barulhenta, que tem sim todo direito de tentar conquistar o espaço de seus ideais, mas, repito, com diálogo e respeito. Na base da imposição não! Como estão tentando com os “todes” por aí.
Enquanto a Constituição nos garante o direito à liberdade de expressão, todos podemos nos manifestar. Mas daí, querer deturpar o vernáculo é, no mínimo, uma conduta pueril.
Paz e Bem a todos!
Tulio Guitarrari é jornalista e filósofo.