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Fibromialgia: existe ou não existe?

 Fibromialgia: existe ou não existe?

Talvez você já tenha ouvido alguém dizer que fibromialgia “não existe”, que é apenas “coisa da cabeça” ou um exagero da dor. A verdade é que até a própria ciência, por muito tempo, questionou a legitimidade dessa condição. Por não haver exames de imagem ou laboratoriais que comprovem a fibromialgia, muitos médicos e pesquisadores se perguntavam: será que estamos diante de uma doença real ou apenas de um conjunto de sintomas sem causa definida?

O fato é que a fibromialgia foi descrita oficialmente há décadas, e hoje há consenso em boa parte da comunidade científica de que ela representa uma síndrome de dor crônica relacionada à forma como o sistema nervoso processa os estímulos dolorosos. Estudos recentes, publicados em revistas indexadas na PubMed e revisões da Cochrane Library, demonstram alterações claras nos mecanismos de percepção da dor em pessoas diagnosticadas com fibromialgia. Ainda assim, persiste um debate: se não há marcadores biológicos específicos, será que podemos considerá-la uma “doença” propriamente dita ou apenas uma manifestação clínica complexa?

Essa discussão é válida e importante, mas, no dia a dia, pouco importa para quem sente dor. Independentemente de como a ciência a define, a fibromialgia é real para quem convive com ela. A dor não é imaginária, a fadiga não é invenção, o sono ruim não é frescura. E se existe sofrimento, deve haver também tratamento.

É aqui que entra a prática baseada em evidências. Pesquisas robustas mostram que a fibromialgia pode — e deve — ser tratada de forma multidisciplinar, com participação de médicos, psicólogos, nutricionistas e, principalmente, fisioterapeutas. A fisioterapia é central porque o movimento é uma das ferramentas mais poderosas contra a dor persistente. Exercícios aeróbicos, como caminhada e hidroginástica, reduzem a intensidade da dor e melhoram a qualidade de vida. O fortalecimento muscular, aplicado com cargas leves e progressivas, aumenta a tolerância ao esforço e devolve autonomia. Atividades como yoga, tai chi e dança ajudam não só no corpo, mas também no equilíbrio emocional.

Mais do que exercícios, o processo envolve também educação: compreender a dor, perder o medo de se mover, adotar estratégias de autocuidado e aprender a respeitar o corpo sem deixar de desafiá-lo. Quando a pessoa entende o que está acontecendo, a dor deixa de ser um inimigo invisível e passa a ser um sinal com o qual é possível dialogar.

Portanto, se a fibromialgia “existe” ou não para alguns pesquisadores, isso não muda o que a prática clínica já mostrou: há tratamento eficaz, há caminhos possíveis e há vida além da dor. A ciência pode continuar discutindo definições e classificações, mas para o paciente o que importa é recuperar sua rotina, sua energia e sua esperança. E isso é possível — com fisioterapia, com equipe multidisciplinar e, sobretudo, com informação de qualidade.

Yuri de Santis é fisioterapeuta (CREFITO-3 240236-F)

Redação

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