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Danilo Nunes: a trajetória de resistência, educação e voz ativa no Dia da Consciência Negra

 Danilo Nunes: a trajetória de resistência, educação e voz ativa no Dia da Consciência Negra

No Dia da Consciência Negra, o advogado e jornalista Danilo Nunes, colunista de O Diário e voz conhecida na Rádio O Diário, revisita sua trajetória marcada por desafios sociais, raciais e econômicos. Em entrevista, ele reflete sobre infância, carreira, racismo estrutural, representatividade e o papel transformador da educação na vida de jovens negros e LGBTQIA+.

Da infância em Barretos à formação jurídica

Durante a conversa, Danilo começou falando sobre suas origens e sobre como a ausência paterna nunca foi motivo de fragilidade, mas de impulso. Filho de Maria da Glória, uma mulher preta, mineira, cozinheira, que criou dois filhos sozinha, ele lembra que cresceu em meio a desafios típicos de uma criança pobre da Barretos dos anos 1980.

A mãe trabalhou por mais de duas décadas na casa de Maria Ermida, com quem Danilo diz ter criado laços de afeto que atravessam gerações. Ele estudou integralmente em escola pública, especialmente na Escola Doutor Antônio Olympio, onde também foi presidente do grêmio estudantil.

Após a morte da mãe, aos 10 anos, foi criado por uma tia. Ainda adolescente, foi coroinha da Catedral do Divino Espírito Santo e vivia a poucos metros da Casa Paroquial.

Aos 14 anos, começou a trabalhar e, ao longo da juventude, atuou na produção de eventos e marketing promocional. Trabalhou na Festa do Peão e viajou por diversas cidades. Depois, recebeu convite para atuar no marketing da Fundação Educacional de Barretos, onde cursou também sua segunda graduação: Direito.

Da formação inicial às especializações, Danilo concluiu pós-graduação, mestrado e chegou ao doutorado na Faculdade de Direito da USP em Ribeirão Preto, onde hoje mantém escritório de advocacia.

Racismo estrutural e acesso à justiça

Ao falar sobre sua atuação como jornalista e advogado, Danilo destacou que o racismo continua sendo um obstáculo central no Brasil. Ele aponta que o acesso à justiça ainda é profundamente desigual para pessoas pretas e pobres.

Citando autores como Mauro Cappelletti e Bryant Garth, ele lembra que o país ainda enfrenta barreiras estruturais que limitam a efetividade do acesso à justiça. Para Danilo, a Defensoria Pública é hoje um dos instrumentos mais importantes para reduzir essa desigualdade.

“É uma patologia social”, resume, ao explicar como o racismo se manifesta em sistemas institucionais, culturais e econômicos.

Entre a comunicação e o Direito: romper barreiras sociais

Como comentarista de rádio e advogado, Danilo afirma que o maior desafio sempre foi ocupar espaços de poder — não apenas pela cor da pele ou orientação sexual, mas pela necessidade de estar preparado tecnicamente.

Ele relembra sua participação na criação do Diário News em 2017 e diz que a credibilidade construída ao longo dos anos, sem processos ou acusações de danos morais, reforça o compromisso com rigor e responsabilidade na comunicação.

Danilo também destaca figuras históricas de Barretos que abriram caminhos na luta racial, como Zé Preto, Leobino, Elisa Lucas, Tininho, Dona Liberalina e Adão Ribeiro. Segundo ele, a cidade só avança quando reconhece essas lideranças e promove o diálogo entre etnias, religiões e culturas.

Consciência Negra: feriado nacional e avanço civilizatório

Para Danilo, transformar o Dia da Consciência Negra em feriado nacional é um marco simbólico e prático. Ele afirma que a data representa um “avanço civilizatório”, pois força governos, instituições e a sociedade a refletirem sobre a história e o presente de 112 milhões de brasileiros que se autodeclaram pretos ou pardos no último censo.

Ele cita a teoria do reconhecimento, de autores como Nancy Fraser e Axel Honneth, para reforçar que o país precisa valorizar a pluralidade e reconhecer o outro como sujeito de direitos.

Representatividade e mídia: o que avançou e o que ainda falta

Ao falar sobre representatividade de pessoas negras e LGBTQIA+ na mídia local e regional, Danilo afirma que o principal motor da transformação é a educação. Mais do que ocupar espaços, ele defende a capacitação técnica para exercer influência com responsabilidade.

Na rádio, ele diz que sente representar simbolicamente grande parte da população barretense e regional — especialmente os 55% de brasileiros que se identificam como pretos ou pardos.

Mensagem final: educação como caminho sem atalhos

Encerrando a entrevista, Danilo deixa uma mensagem para jovens negros e LGBTQIA+ que desejam construir carreira no Direito, no Jornalismo ou em qualquer outra área historicamente marcada pela desigualdade.

Segundo ele, o caminho é duro, mas não há atalhos: capacitação, leitura, estudo e coragem são fundamentais.

“Toda sombra precisa ser enfrentada com conhecimento”, afirmou, citando o mito da caverna de Platão. Para ele, ocupar espaços deve ir além do simbolismo: precisa gerar transformação social real.

ASSISTA A ENTREVISTA COMPLETA AQUI

Igor Sorente

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