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PCC amplia atuação e mira usinas sucroalcooleiras na região, revela operação nacional

 PCC amplia atuação e mira usinas sucroalcooleiras na região, revela operação nacional

A Operação Carbono Oculto, deflagrada no último dia 28 de agosto pelo Ministério Público de São Paulo (MP-SP) em conjunto com a Receita Federal, revelou um novo braço de atuação do Primeiro Comando da Capital (PCC): a aquisição de empresas de grande porte para lavar dinheiro do crime. Entre os alvos da ofensiva, duas usinas da região de São José do Rio Preto foram citadas — a unidade de Ariranha do Grupo Virgolino de Oliveira (GVO) e a Usina Itajobi, em Marapoama. As informações foram publicadas pelo jornal Diário da Região.


Como funcionava o esquema

De acordo com a apuração, o PCC passou a monitorar empresas em dificuldades financeiras, especialmente no setor sucroenergético, para oferecer quitação de dívidas em troca do controle societário. No Brasil, há 446 usinas sucroalcooleiras instaladas, mas 24% estão em processo de recuperação judicial ou falência, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Um levantamento da RPA Consultoria aponta que 107 usinas estão nessa condição, tornando-se vulneráveis a operações de aquisição.

O MP detalhou que o grupo utilizava fundos de investimento e debêntures para se apresentar como investidor legítimo, quando, na prática, tomava o controle de empresas com dívidas milionárias. Relatórios apontam o nome de Mohamad Hussein Mourad como líder do esquema, junto de Roberto Augusto Leme, ligados às empresas Aster e Copape.


Usina Itajobi no centro das investigações

Segundo os documentos, a aquisição da Usina Itajobi foi feita por meio do fundo MABRUK II, administrado pela REAG Investimentos, que assumiu dívidas e indenizou arrendatários para obter 100% da posição societária. Após a operação, foi criado o Radford Fundo de Investimento Multimercado, que recebeu cerca de R$ 100 milhões da usina, valor considerado incompatível com o caixa da empresa.

O relatório ainda descreve um intrincado sistema de camadas financeiras, envolvendo fundos com cotistas “opacos”, uso de “laranjas” e empresas de fachada, além de movimentações por instituições de pagamento para dificultar o rastreamento do dinheiro. Também houve preocupação em controlar a logística: veículos usados no transporte de cana e etanol estavam registrados em nome de empresas como Blue Star Locação de Equipamentos S.A., Locar Locadora Ltda e G8.LOG.

Em nota, a Usina Itajobi afirmou que “colabora ativamente com as autoridades competentes para o pleno esclarecimento dos fatos, mantendo total transparência e respeito às instituições”.

Trechos da investigação do Ministério Público mostram que as usinas da região de São José do Rio Preto se tornaram alvo do PCC após processos de recuperação judicial.


Recuperação judicial e o caso do Grupo Virgolino de Oliveira

A situação da GVO também chamou atenção. Em recuperação judicial no Foro de Santa Adélia, a empresa teria se tornado alvo para operações de aquisição via compra de créditos. Fundos ligados ao grupo investigado adquiriram parte significativa desses créditos, preparando-se para controlar economicamente partes da usina.

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Entre os instrumentos identificados está um contrato de parceria agrícola firmado pelo fundo Celebration com a Virgolino de Oliveira e a Usina Itajobi, permitindo a exploração de áreas produtoras de etanol em Catanduva e Itapira.

Os advogados da GVO, em nota, disseram que “a empresa não é alvo da investigação, contribui com as autoridades e que suas operações financeiras foram informadas e aprovadas pelo Poder Judiciário”.


Impactos no setor e próximos passos

De acordo com o MP, após a entrada do grupo criminoso no setor, o preço médio da cana-de-açúcar subiu cerca de 40% em São Paulo, revelando impacto direto sobre o mercado. A ofensiva das autoridades agora busca rastrear fluxos financeiros e responsabilizar os envolvidos, diante de movimentações que somam cifras bilionárias.

A investigação segue em andamento e deve aprofundar a análise sobre a participação de fundos de investimento e empresas ligadas ao esquema.

Redação

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