Aleluia! Artista morre e ressuscita em Barretos

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A notícia correu nas mídias sociais. Deixou muita gente triste. Olhos ficaram inchados de tantas lágrimas que rolaram de carpideiras juramentadas. Até uma associação cultural emitiu nota de pesar. O artista Jesus morreu em Barretos no mês de junho. Mas ressuscitou. Afinal, sem corpo em cima da pedra não há velório para as inúmeras “viúvas”, prontas para o luto oficial.

Porém, para garantir que estava vivo e que não haveria missa de sétimo dia, o “quase-morto” publicou vídeo no Facebook. Sua intenção foi abafar a boataria e assegurar que ainda permanecia ativo sobre a terra do peão de boiadeiro. Todo o burburinho não passou de um generoso mal-entendido.

O “marrento” Jesus Aparecido de Carvalho nasceu na Vila Gomes em 1947. A molecada da área lhe deu o apelido de “Zuza” por causa de seu cabelo branco. Muitos anos mais tarde, aproveitou a “alcunha” para fazer um programa radiofônico de sucesso extraordinário: “Vitrola do Véio Zuza”.

De tanto ouvir pelo rádio a poesia de domínio público “Alma Gêmea”, acabou memorizando-a. Recitou-a, causando admiração. “Aí fui pegando gosto pela coisa”, conforme confessou publicamente.

Certa ocasião o valente Jesus lascou uns “pipocos” para cima de um desafeto. Foi parar no xilindró. Lá no cárcere escreveu seus primeiros poemas. Sua obra inicial, “Tristeza”, retratou uma das piores situações de um preso. “É quando a visita vai embora e o recluso retorna a cela”, observou.

“Quando você vai embora tudo volta a ficar triste.

Sozinho entre o meu sonho nesse meu mundo tão estranho

de quem na vida errou, queria ir contigo também,

mas no meu caminho tem as grades que a lei trancou.

Liberdade conquistada, Jesus foi para São Paulo. Trabalhou em vários lugares. Foi parar na Assembleia Legislativa a convite do deputado Nadir Kenan. Lá nos anos 70, as quartas-feiras, frequentava o Som de Cristal, uma gafieira na Rua Rego de Freitas, onde os artistas se reuniam. A casa tinha um concurso de quadrinhas. Os organizadores davam um tema e os poetas tinham que destrinchar o assunto. Certa vez, na disputa, o barretense ganhou um violão ao improvisar uma quadra:

“Quando morrer levo a cova,

Dentro do meu coração

O suspiro de uma trova

E o tanger do violão”.

Depois das disputas, os trovadores jogavam víspora, marcando as cartelinhas com feijão. “Uma coisa glamorosa”, lembra Jesus.

Em 1981, deixou o emprego no Tribunal Regional Eleitoral e voltou para Barretos também a convite de Nadir Kenan. Mas o deputado morreu. Então, quem dominava os palanques passou ter voz ativa no rádio. Virou, Jota Carvalho. Começou como repórter esportivo na Rádio Barretos PRJ-8. Em 1985, foi premiado pela sua atuação na emissora.

Em 1998, escreveu em parceria com o guairense Sergio Figueiredo, “Orgulho Barretense”. Em 2015, com “Crônica Boiadeira” participou do CD produzido por Armando Garcia, intitulado “Capital do Berrante – Cinquentenário da Festa do Peão”.

Em 2008, Jota Carvalho passou a gravar CDs intitulados Versos e Reversos, que em 2017, atinge o volume 8. Fez homenagens a Zé Feição, Rose Abrão, Nidoval Reis, João Tatu (apelido do ex-prefeito João Rocha), entre tantos. Em 2005, nos 50 anos da Festa do Peão escreveu “Histórias de Barretos”.

No dia 4 de janeiro de 2009, morreu o famoso Touro Bandido, cujos restos mortais foram enterrados num mausoléu, no Parque do Peão. Em parceria com Sérgio Figueiredo, escreveu e gravou “Relato do Touro Bandido”. O vídeo já tem cerca de 470 mil acessos na internet.

“Palhaço de Rodeio”, uma parceria de Jota Carvalho e Itamaracá, foi gravado por Paulo Cesar e Amorim, em 2001. O poema “Retrato Antigo”, uma das pérolas do barretense, homenageou ao comissário Admundo Martins, pai do Carlinhos Manco. Corria 1991 quando compôs “Tributo a Zé Feição”, reverência a um baita contador de causos.

O parceiro Itamaracá morreu em 2004. No cemitério de Aparecida de Goiânia, GO, quando descia o caixão do amigo, declamou “A despedida do poeta”, ao som do ponteado de André e Andrade. Um dos grandes sucessos de Jota Carvalho é a composição satírica “Cadê o homem?”, em parceria com Zezinho Barros.

O setentão Jota Carvalho tem muitas histórias para contar.  O recitador-caipira-poético é muito requisitado para festas e eventos variados em todos os cantos do país. O apresentador oficial da Violeira Rose Abrão é um versejador nato, preservador da cultura sertaneja. Um apaixonado pela vida, criador de muitos versos e reversos, que ficam nas lembranças de seus fãs e admiradores:

“Dessa saudade infinita

Não guardo mágoas porque

Foi a coisa mais bonita

Que me restou de você”.

 

Observação: – Jota Carvalho continua vivo, por enquanto….

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Aquino José

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