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Barretos debate câncer infantojuvenil em audiência pública na Câmara Municipal

 Barretos debate câncer infantojuvenil em audiência pública na Câmara Municipal

A Câmara Municipal de Barretos realizou, na noite de quinta-feira (13), uma audiência pública dedicada à incidência e às causas do câncer infantojuvenil, doença que ainda é a principal causa de morte por enfermidade entre crianças e adolescentes no Brasil. Proposto pelo vereador Adilson Ventura de Mello (MDB), o encontro teve como objetivo ampliar a conscientização, debater políticas públicas de apoio às famílias e fortalecer o diagnóstico precoce e o acesso ao tratamento especializado.

Especialistas apresentam cenário mundial e desafios do Brasil

A audiência contou com a participação do médico oncologista pediatra Dr. Luiz Fernando Lopes, diretor científico do Hospital Infantojuvenil do Hospital de Amor, que apresentou dados atualizados sobre o câncer em crianças e adolescentes no Brasil e no mundo.

Segundo o especialista, estudos internacionais apontam que, ao contrário do que se estimava anteriormente, o número de novos casos anuais de câncer infantojuvenil no mundo é de aproximadamente 400 mil crianças por ano, e não 200 mil. Parte significativa desses casos não chega a ser diagnosticada, especialmente em países em desenvolvimento.

No Brasil, conforme exposto, a estimativa oficial é de cerca de 8 mil novos casos anuais, mas, considerando que cerca de 40% das crianças não têm diagnóstico registrado, o número real pode se aproximar de 12 mil. O médico destacou ainda que:

  • Em países desenvolvidos, como Estados Unidos, Canadá, Alemanha e Japão, as taxas de cura chegam a 85% a 90%;
  • Em países de baixa e média renda, que concentram cerca de 80% das crianças do mundo, a taxa média de cura ainda gira em torno de 20%;
  • No Brasil, a taxa média de cura é de aproximadamente 60%, índice que, segundo o especialista, cresce em centros de referência como Barretos.

Dr. Luiz Fernando chamou atenção para a importância da prevenção secundária, que consiste em ensinar pediatras, professores, profissionais de saúde e famílias a reconhecer sinais e sintomas precoces da doença, como vômitos persistentes pela manhã, manchas roxas sem trauma aparente, caroços em partes do corpo, dor óssea prolongada, alterações no olhar e febre de longa duração.

Ele também apresentou o impacto econômico do tratamento: estudos citados durante a audiência indicam que cada dólar investido no tratamento de uma criança com câncer pode retornar até três vezes ao longo da vida adulta, por meio de produtividade e contribuição para a sociedade.

Barretos como centro de referência e programas de formação

Durante a exposição, o médico ressaltou que Barretos é considerado hoje um centro de excelência no tratamento do câncer infantojuvenil, com cerca de 500 crianças em tratamento no município, com oferta de hospedagem, alimentação, cuidados e tratamento integral sem custo para as famílias.

O público presente também foi informado sobre a atuação de Barretos em parceria com o hospital St. Jude Children’s Research Hospital, nos Estados Unidos, por meio de programas de cooperação internacional. Esses programas envolvem:

  • Formação e capacitação de médicos, enfermeiros, cirurgiões, patologistas e outros profissionais de saúde em diferentes regiões do Brasil;
  • Apoio a 38 centros habilitados para tratamento de câncer infantil no país, com ampliação gradativa dessa rede;
  • Monitoramento de fluxos de atendimento e de tempos de diagnóstico, com estudos sobre o caminho percorrido pelas famílias até chegar aos centros especializados.

Ainda no campo da educação, foi apresentado o trabalho do Núcleo de Educação em Câncer (NEC) do Hospital de Amor, que desenvolve projetos com escolas, estudantes de ensino médio e de pós-graduação, além de materiais de orientação para professores sobre sinais de alerta e prevenção secundária.

Sobrevivência, qualidade de vida e cuidado ao longo da vida

A oncologista pediátrica Dra. Juliana Lanza, coordenadora do Ambulatório de Seguimento dos Sobreviventes do Câncer Infantil do Hospital Infantojuvenil, abordou a trajetória dos pacientes em três fases: antes, durante e depois do tratamento.

Ela explicou que:

  • Hoje, cerca de 65% das crianças e adolescentes com câncer no Brasil podem se curar;
  • O desafio atual não é apenas alcançar a cura, mas garantir qualidade de vida após o término do tratamento;
  • Os tratamentos mais modernos procuram equilibrar eficácia e menor toxicidade, com protocolos ajustados ao risco individual de cada paciente;
  • Sobreviventes do câncer infantojuvenil podem ter efeitos tardios físicos, hormonais, cardíacos, odontológicos e emocionais, exigindo acompanhamento especializado ao longo de toda a vida.

Dra. Juliana relatou que, após cinco anos fora do tratamento oncológico, os pacientes são encaminhados para um ambulatório específico de sobreviventes, onde são acompanhados por equipe multidisciplinar com médicos, enfermagem, serviço social, psicologia, ginecologia, endocrinologia, cardiologia e outras especialidades, de acordo com o histórico de tratamento.

A médica também destacou a importância de que a rede básica de saúde reconheça o sobrevivente como um cidadão que deve ser atendido normalmente em casos comuns, como gripes e outras intercorrências, evitando que toda a assistência fique restrita aos hospitais oncológicos.

Educação, escola e rede de proteção às crianças e adolescentes

A audiência teve ainda a participação da secretária municipal de Educação, Mirka de Oliveira Stefani Costa, de profissionais da rede municipal de ensino e de professores da Escola Municipal Doutor João Ferreira Lopes.

Também esteve presente Roseli Cristina Assis da Silva, referência na área educacional, Cidadã Honorária de Barretos, que destacou o papel estratégico dos professores na identificação de sinais de alerta em sala de aula, especialmente em uma rede com milhares de alunos.

Ao longo das intervenções, foi defendida a ampliação de ações de formação continuada para docentes, com o objetivo de:

  • Sensibilizar professores para sinais e sintomas que não desaparecem com facilidade, como hematomas recorrentes, dores persistentes ou cansaço excessivo;
  • Estabelecer fluxos de encaminhamento para serviços especializados, em articulação com a rede municipal de saúde;
  • Integrar as ações da Secretaria de Educação às iniciativas do Hospital de Amor, do NEC e das campanhas já existentes.

Campanha “Passos que Salvam” e mobilização da comunidade

Durante a audiência, o vereador Adilson Ventura de Mello, propositor do encontro, explicou que a atividade integra a programação da campanha “Passos que Salvam”, mobilização anual que envolve escolas municipais, professores, famílias e voluntários em prol do diagnóstico precoce do câncer infantojuvenil.

O parlamentar lembrou que:

  • A campanha inclui formações, palestras e ações educativas ao longo do ano;
  • No dia 30 de novembro, a partir das 8h, será realizada a caminhada “Passos que Salvam”, com saída do Hospital Infantojuvenil em direção ao shopping da cidade;
  • A audiência e todo o material (vídeos, áudios e fotos) ficam registrados e disponíveis no site da Câmara Municipal, além da transmissão pela TV Câmara e pelos canais oficiais no YouTube e Facebook.

Ao final, os participantes reforçaram a importância da participação da população nas atividades da campanha e na caminhada, bem como da manutenção do diálogo entre Câmara Municipal, Hospital de Amor, Secretaria Municipal de Educação e comunidade escolar para fortalecer a rede de proteção às crianças e adolescentes de Barretos e região.

ASSISTA A AUDIÊNCIA PÚBLICA AQUI

FOTO 19

Dr. Luiz Fernando Lopes

FOTO 20

Vereador Adilson Ventura de Mello

FOTO 21

Dra. Juliana Lanza

Igor Sorente

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