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Prontos para o Ano Novo?

 Prontos para o Ano Novo?
  • Túlio Guitarrari é filósofo, técnico contábil, jornalista e pós-graduado em Ciência Política e Teologia.

Já começou a sua lista? Aquela famosa lista que quase todo mundo faz na virada do ano: ir à academia, fazer dieta, melhorar o rendimento no trabalho, ser mais paciente, brigar menos com a família, entre tantas outras promessas recorrentes. Quase todos já passaram por isso — eu mesmo, inúmeras vezes.

Venho propor algo talvez diferente: que tal incluir na lista do próximo ano o compromisso de se tornar uma pessoa mais politizada? Mas atenção: não confunda ser politizado com a balbúrdia que se vê atualmente. Um país dividido, marcado por ataques pessoais, rótulos vazios e ausência de diálogo, não é sinal de politização; é sinal de um povo cativo.

Quando o “argumento” se resume a chamar o outro de fascista, petista, gado ou jumento — e agora, quem diria, até de “havaiana” ou “Ipanema” — isso não é debate, é cabresto. Não há reflexão nem fundamento. Há repetição. Quem apenas reproduz slogans não argumenta; apenas repete aquilo que foi ensinado a repetir.

É absolutamente legítimo posicionar-se politicamente à esquerda ou à direita. O que não é aceitável é fazê-lo sem preparo, sem estudo e sem qualidade na argumentação. Por isso, a proposta é clara: colocar na lista o compromisso de nos tornarmos, de fato, um povo politizado — que estuda, que compreende o que a direita e a esquerda defendem e que fundamenta suas escolhas de acordo com suas convicções.

O próximo ano será eleitoral. Se permanecermos no atual nível de radicalização e ignorância deliberada, o ambiente tende a se deteriorar ainda mais, flertando perigosamente com conflitos que ultrapassam o campo das ideias.

Curiosamente, o país só parece se unir em tempos de Copa do Mundo. Todos torcem juntos — ainda que, sejamos honestos, a seleção atualmente não inspire grande confiança. Torcemos assim mesmo. O problema é que, terminado o campeonato, voltamos ao vale-tudo político, sem zelo pelo futuro do país.

Passadas as paixões esportivas, é preciso retomar o compromisso com o Brasil. Cada um a partir de sua visão ideológica, sim — mas com responsabilidade, conteúdo e respeito. O debate político tornou-se enfadonho, raso e perigosamente próximo de agressões, tanto verbais quanto físicas.

É evidente que não basta apenas escrever “ser mais politizado” na lista de Ano Novo. Todos sabemos como costumam terminar as promessas de dieta, academia e vida saudável. Trata-se de colocar o compromisso em prática. Tornar-se politizado de verdade.

Não por acaso, ao longo do tempo, foram sendo retiradas da educação disciplinas como Educação Moral e Cívica e a Filosofia clássica — aquela que ensina a pensar criticamente, e não a doutrinar. Um povo que pensa não cai facilmente na lábia de político. Um povo que questiona não vota em qualquer promessa populista — seja ela embrulhada em picanha ou em piadas rasas e sem graça. O trocadilho é proposital.

Os dois lados têm seus ídolos. E isso, definitivamente, não faz bem ao país.

Ainda assim, não devemos perder a esperança no Brasil. Jamais.

Paz, bem e um próspero Ano Novo a todos.

Redação

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