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Barretos turístico? Entre o riso e a realidade

 Barretos turístico? Entre o riso e a realidade

Na última terça-feira (16), no 5º Encontro de Muladeiros do Bem, o prefeito Odair Silva (REP) anunciou que Barretos estaria “caminhando para se tornar distrito turístico”. Foi o suficiente para arrancar risadinhas irônicas e cochichos de descrédito da plateia. E não é para menos: Barretos já foi MIT, hoje é Estância Turística e, agora, aparece essa ideia de Distrito. Parece mais uma dança das cadeiras das classificações turísticas do que um projeto sólido.

Mas o que isso significa, afinal? MIT é para cidades de até 200 mil habitantes com potencial turístico. Estância Turística é título para municípios maiores, com atrativos históricos, naturais ou religiosos e que recebem mais recursos estaduais. Já Distrito Turístico é outra lógica: trata-se de uma área geográfica ampla, que pode até envolver mais de um município, e que exige planejamento integrado, infraestrutura, serviços e uma série de atrativos organizados. É como pensar Olímpia multiplicada.

E é aí que o discurso do prefeito bate de frente com a realidade. Porque a pergunta que qualquer cidadão barretense faz é simples: turismo do quê e para quem?

Olímpia é o exemplo vivo de que turismo não é papo furado. Qualquer dia da semana, lá estão os ônibus chegando, turistas circulando, bares e restaurantes cheios, comércio aquecido. Além dos parques aquáticos, a cidade soube criar um ecossistema de atrações: museus, orquidário, vale dos dinossauros, realidade virtual. À noite, a cidade ferve na avenida principal, com bares, música e gente.

Agora olhemos para Barretos. O que oferecemos de atrativo público permanente? A Estação Cultural fechada e sem pessoal; o Museu Ruy Menezes que não abre no fim de semana; o Marco Zero sem sombra nem explicação histórica; a Catedral que perdeu seu museu de arte sacra; a região dos lagos, sempre reformada e sempre sem nada — sem pedalinho, sem choperia, sem atração. Turismo rural? Ficou no papel, sem estrada, sem van, sem ônibus. A cidade aos fins de semana é um deserto cultural: nada no Cine Teatro, nada nas praças, nada organizado pelo poder público.

É duro dizer, mas a verdade é clara: o turismo de Barretos é privado. Quem segura as pontas são o Rio das Pedras, o Barretos Country, Os Independentes com o Parque do Peão, e o North Shopping. E mesmo a Festa do Peão, com seus quase 1 milhão de visitantes, não se traduz em movimento na cidade. O turista não passeia pela cidade porque não tem o que ver. O comércio reclama em silêncio, a Associação Comercial não reage, e a prefeitura insiste em cortar até desfile cívico.

Transformar Barretos em distrito turístico, sem resolver esse vazio estrutural, é como querer vender um carro sem motor. Não basta título, precisa ação, visão e investimento. Se Olímpia virou potência é porque pensou grande, diversificou, apostou em infraestrutura e experiência. Barretos, se quiser de fato se colocar no mapa, precisa de coragem política para transformar praça em praça, museu em museu, lago em lago, evento em evento. Caso contrário, continuará refém de discursos de palanque — e de risadinhas na plateia.

Porque turismo, meus amigos, não é palavra mágica. É realidade concreta. Ou se constrói, ou se perde.

Redação

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