Quando o prefeito se esquece de fazer política: o caso Odair Silva
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Quem governa precisa fazer política. Parece óbvio? Parece. Mas acredite: tem prefeito que chega ao cargo sem sequer entender o jogo que está jogando. E Barretos, minha gente, virou o laboratório perfeito desse fenômeno.
Odair de Moura e Silva, radialista de profissão e hoje prefeito de Barretos, entrou na política como quem acha que microfone é igual a caneta de sancionar lei. Não é. Governo não se faz com release e foto bonita nas redes sociais. Governo se faz com articulação, com reunião, com negociação, com café servido antes da sessão da Câmara e com o famoso “olho no olho” com os vereadores. Isso é política. E política, meu caro leitor, é o que Odair não sabe fazer.
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A ilusão da comunicação unilateral
Odair parece acreditar que uma gestão municipal se sustenta apenas com a imprensa e com a distribuição generosa de verba publicitária. Aliás, vamos falar disso. Mal começou o mandato e as notas fiscais de publicidade já mostravam um aumento considerável em relação à gestão anterior. Não bastasse isso, Odair decidiu abrir os cofres para os chamados “influenciadores digitais” da cidade — os mesmos que, meses antes, faziam campanha eleitoral para ele. Coincidência? Claro que não.
Mas, como toda ação gera uma reação, os vereadores olharam para esse movimento e pensaram: “Se o prefeito acha que governa sozinho com a imprensa, vamos mostrar pra ele quem é que manda de verdade”.
Uma lei como troco político
A resposta foi rápida e implacável: nasceu a Lei Municipal 7.154/2025, impondo limites duros aos gastos com publicidade institucional. Uma lei feita sob medida para cortar o oxigênio da comunicação de Odair. O recado político foi direto: “Se você não conversa com a Câmara, a Câmara te silencia na mídia”.
E o mais curioso: Odair teve várias oportunidades para evitar esse desastre político. Poderia ter chamado os vereadores para uma mesa de negociação antes da votação. Poderia ter articulado o veto ao projeto. Poderia ter construído maioria para derrubar a lei dentro da própria Câmara. Mas não fez. Nem isso. Quando a lei chegou para ele sancionar, Odair simplesmente vetou. Coube ao presidente da Câmara, Lupa, do próprio partido de Odair (Republicanos), sancionar a lei. Um vexame político de manual.
O ataque ao Legislativo
E o problema vai além da omissão. Odair não apenas despreza o papel do Legislativo: ele busca deliberadamente desgastar a reputação dos vereadores perante a opinião pública. Um gesto claro de prepotência, que tenta reduzir a política a uma narrativa rasa de heróis e vilões — com o Executivo no papel de salvador e o Legislativo como obstáculo. Uma estratégia perigosa e infantil, que só aumenta o isolamento político do próprio prefeito.
Uma crise anunciada
O que estamos vendo em Barretos é um governo isolado, sem base política, sem articulação e com um prefeito que parece acreditar mais em curtidas no Instagram do que no básico da administração pública: o diálogo com o Legislativo. Odair não entendeu que quem governa precisa ter votos no plenário, não só likes na internet.
E o cenário só piora. Nos bastidores, já circula o comentário de que até Henrique Prata, um dos principais articuladores da vitória de Odair, estaria insatisfeito com o rumo da gestão. E tem mais: há quem diga que o vice-prefeito Mussa Calil Neto, com muito mais habilidade política, já poderia ocupar a cadeira.
Para onde vamos?
A pergunta que fica é: Odair termina o mandato? Hoje, olhando os sinais políticos, a resposta é um grande talvez. Sem base, sem articulação e com a mídia cada vez mais distante, o atual prefeito de Barretos parece estar construindo, tijolo por tijolo, a sua própria crise. Para quem gosta de acompanhar a política local como um bom reality show, o enredo está apenas começando. Mas para quem vive na cidade e paga impostos, a situação é preocupante.