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Liberdade de imprensa também é para cidades pequenas

 Liberdade de imprensa também é para cidades pequenas
  • Samuel da Silva é jornalista e escreve para o Portal Notícias Colômbia SP. Atua nas áreas de jornalismo, polícia, inteligência artificial, política, comunicação, assessoria e marketing eleitoral.

Fazer jornalismo em cidades pequenas como Colômbia é enfrentar uma realidade muitas vezes distante dos grandes debates nacionais sobre liberdade de imprensa — mas nem por isso menos desafiadora. Em lugares onde todos se conhecem, e onde a política e a vida pessoal se misturam com facilidade, noticiar fatos públicos se torna, em muitos casos, um ato de coragem.

É comum que moradores associem a divulgação de informações de interesse coletivo a ataques pessoais. Publicar um fato registrado em boletim de ocorrência, informar sobre uma denúncia do Ministério Público ou divulgar dados de um contrato público pode ser interpretado como afronta, mentira ou perseguição — mesmo quando a fonte da informação é oficial e está devidamente documentada. O jornalismo é acusado, muitas vezes, de inventar, distorcer ou “expor” pessoas, ainda que apenas esteja cumprindo seu papel constitucional: o de informar com base nos fatos, especialmente aqueles registrados por autoridades ou por meio de documentos públicos.

Esse cenário revela um sintoma preocupante: a falta de compreensão sobre o que é, de fato, liberdade de imprensa. Em Colômbia e em outras cidades com perfil semelhante, ainda há quem acredite que, para publicar uma notícia, seja necessário pedir autorização, consultar familiares ou considerar possíveis desagrados antes de divulgar algo de interesse público. O desconhecimento sobre os limites da imprensa e sobre o direito coletivo à informação alimenta tentativas de censura veladas, ameaças disfarçadas de conselhos e um silencioso boicote ao trabalho jornalístico sério.

A situação se torna ainda mais crítica quando familiares de pessoas citadas em reportagens — muitas vezes por envolvimento em ocorrências policiais ou em investigações públicas — tentam inverter a lógica democrática: culpam o jornalista por noticiar o fato, e não o autor pelo fato ocorrido. Em certos casos, ocorrem tentativas de intimidação, constrangimento ou desacreditação por meio de ataques nas redes sociais, pressionando o veículo de comunicação como se este fosse o responsável pelos atos de terceiros.

Nesse contexto, exercer o jornalismo é caminhar na linha tênue entre o direito de informar e a resistência de quem não compreende — ou finge não compreender — esse direito. É conviver com o risco de ser mal interpretado, acusado injustamente e ter a credibilidade colocada em xeque apenas por noticiar aquilo que é fato.

Mas o papel da imprensa — mesmo na menor cidade do Brasil — não é agradar a todos, e sim cumprir sua função social. Quando um portal divulga informações sobre uma licitação, um repasse irregular, um projeto aprovado ou uma prisão em flagrante, não está atacando ninguém. Está registrando um acontecimento, prestando um serviço à população e exercendo um direito garantido pela Constituição: o de informar com liberdade, responsabilidade e compromisso público.

É preciso reafirmar, todos os dias, que a liberdade de imprensa não é um privilégio das capitais. Ela é um direito das pequenas cidades, dos pequenos portais e dos jornalistas que, muitas vezes sozinhos, enfrentam a missão de informar com ética e verdade. Valorizar esse jornalismo é valorizar a democracia onde ela mais precisa florescer: na base da sociedade.

Talvez, parte da resistência venha do fato de que muitos ainda não compreendem a importância desses meios de comunicação para suas próprias localidades. E justamente por isso, cabe ao jornalismo continuar firme: não por vaidade ou disputa, mas porque informar é um dever — e calar, muitas vezes, seria um erro histórico.

Redação

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