Barretos contrata leitos extras de UTI neonatal após decreto de emergência
Esquecidos na História: Enquanto Rio Preto exalta heróis de 1932, Barretos abandona memória da Revolução Constitucionalista
No dia 9 de julho, feriado estadual que marca a Revolução Constitucionalista de 1932, cidades paulistas se encheram de civismo e homenagens aos paulistas que pegaram em armas contra o governo de Getúlio Vargas. Em São José do Rio Preto, um grande desfile organizado pelo Comando de Policiamento do Interior (CPI-5) levou autoridades civis, militares e centenas de moradores à cerimônia que reverenciou o sacrifício de quem lutou pela convocação de uma Assembleia Constituinte no Brasil.
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Durante o evento, o coronel Nilson Cesar Pereira, comandante do CPI-5, destacou a coragem dos paulistas que enfrentaram as forças federais mesmo em desvantagem. “Foi um ato de bravura e resistência pela democracia, que resultou na Constituição Federal de 1934”, afirmou o coronel. Coroas de flores foram depositadas aos pés do Monumento ao Soldado Ferido, que simboliza todos aqueles que tombaram no conflito.
Já em Barretos, o silêncio falou mais alto
Enquanto Rio Preto, bem como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (REP), lembrava com orgulho os veteranos e reforçava a importância da data, Barretos – que teve cerca de 600 moradores alistados para lutar contra a ditadura de Vargas – não realizou nenhuma cerimônia. O prefeito Odair Silva (Republicanos), que costuma se apresentar como patriota, não promoveu sequer um ato simbólico.
O descaso não é de hoje. A pesquisadora Karla Armani relembra que a cidade já teve uma Praça 9 de Julho construída especialmente para eternizar essa história. “Em 23 de maio de 1970, sobreviventes de 1932 inauguraram a praça e o obelisco, trazendo inclusive a dona Ivone Miragaia, irmã de Mário Martins de Almeida Miragaia, um dos mártires do movimento MMDC. Era para ser um lugar de memória, para que o futuro soubesse que Barretos participou da luta pela democracia”, contou.
Mas a praça foi demolida na gestão da ex-prefeita Paula Lemos (PSD) para dar lugar ao novo Postão de saúde. A decisão foi alvo de críticas de historiadores e moradores. Segundo Mussa Calil Neto (MDB), atual vice-prefeito, o Grêmio Literário e Recreativo de Barretos chegou a oferecer uma área ao lado da praça para a construção da unidade de saúde – proposta que foi rejeitada por Paula Lemos.
Hoje, o obelisco histórico permanece isolado, escondido dentro do estacionamento do Postão, sem visitação. “É triste ver Barretos se desfazer da própria história”, lamentou Karla Armani.
Homenagem virou esquecimento
Enquanto cidades como São José do Rio Preto transformam o 9 de julho em um ato de civismo, Barretos – que um dia teve jovens dispostos a morrer pela Constituição – parece ter esquecido aqueles que fizeram parte da última guerra civil do Brasil. A ex-prefeita destruiu o espaço simbólico; o atual prefeito ignorou a data.
E assim, a memória dos combatentes de 1932 na cidade vai se perdendo, soterrada pelo concreto e pela indiferença.