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Tambor, identidade e resistência: artesão Luiz Poeira conta sua trajetória em meio ao mês da Consciência Negra
No contexto das celebrações do Dia da Consciência Negra, o trabalho de artesãos pretos ganha destaque em São Paulo, reforçando a importância da cultura afro-brasileira e das histórias que moldam o artesanato no estado. Entre esses protagonistas está Luiz Poeira, artesão, capoeirista e fundador do Instituto Tambor, que transformou a própria trajetória de resistência em referência no universo da percussão artesanal.
Autodidata e hoje reconhecido internacionalmente pela fabricação de tambores e instrumentos afro-brasileiros, Luiz Poeira relembra sua trajetória marcada por desafios, raízes culturais e compromisso com a valorização do povo preto, especialmente durante o mês dedicado à Consciência Negra.
Da serrinha ao mundo: o início no corredor de 90 cm
Luiz Poeira começou sua caminhada no artesanato praticamente do zero. Sem estrutura ou recursos, seu primeiro “ateliê” era um corredor de 90 centímetros por 3 metros nos fundos de uma casa alugada. O kit inicial de ferramentas cabia nas mãos: um facão, um arco de serra e uma serrinha.
O interesse nasceu na capoeira — e a primeira criação foi um berimbau. “Eu olhei e falei: acho que consigo fazer”, relembra. Entre lonas improvisadas em dias de chuva e uma rotina de persistência, Poeira enfrentou anos de tentativas até conseguir se sustentar exclusivamente com o próprio trabalho artesanal.
Consciência Negra e o tambor como sagrado
Para ele, o tambor é mais que instrumento: é ancestralidade. “Quando penso em tambor, penso no sagrado. Não tem como falar de consciência negra sem lembrar dos povos africanos que trouxeram os tambores para o Brasil”, destaca.
A ligação entre cultura, identidade e resistência acompanha toda sua fala. Poeira lembra que muitos artesãos pretos iniciam sem capital, sem estrutura e enfrentando barreiras históricas. Ainda assim, seguem criando — e preservando um legado.
Instituto Tambor: cultura, formação e acesso
Fundado em 2009, o Instituto Tambor nasceu do desejo de criar um espaço dedicado integralmente à cultura do tambor: construção, história, dança, música e encontros comunitários.
Hoje instalado na Vila Sônia, em São Paulo, o Instituto conta com oficina completa, showroom e um acervo de instrumentos. O local recebe jovens, artistas, músicos e pesquisadores interessados no universo da percussão afro-brasileira.
A missão também é social: fortalecer pessoas pretas, indígenas e de baixa renda por meio do acesso à cultura. “O problema é que muitos não conhecem sua própria história. Tentamos abrir os caminhos, mas sabemos que não é fácil”, afirma.
O Instituto realiza encontros, rodas de conversa e atividades, em grande parte gratuitas. E mesmo sem apoios regulares, mantém o compromisso de democratizar o acesso à cultura afro-brasileira.
Da África para São Paulo: pesquisa e tradição
Em 2012, Luiz viajou à África, na região da Guiné, onde conviveu com mestres locais e aprofundou o conhecimento em tambores tradicionais como djembês, dununs, crins e balafons.
Essa vivência permitiu aperfeiçoar técnicas, compreender processos ancestrais e reforçar a responsabilidade de preservar a essência cultural no trabalho artesanal.
Hoje, seus instrumentos circulam por escolas de música, grupos religiosos, rodas de capoeira, manifestações tradicionais e até grandes palcos internacionais.
Nomes como Red Hot Chili Peppers, Roger Waters, Sam Garden e músicos de diversas bandas já passaram pelo Instituto — muitos indicados pelo percussionista Mauro Refosco, amigo de Luiz.
Empreendedorismo e o fortalecimento de artesãos negros
A trajetória de Poeira dialoga com iniciativas recentes voltadas ao empreendedorismo artesanal no estado, como o Programa Empreendedor Artesão, da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, lançado recentemente. O programa reconhece e apoia artistas manuais, incluindo artesãos negros como Poeira, que veem na ação um passo importante para diminuir desigualdades históricas no setor.
Poeira reforça a importância desse apoio. “Para quem está começando, muitas vezes só há o sonho e a força de vontade. O empreendedorismo pode ser um recomeço, uma forma de dar estrutura para quem sempre ficou à margem.”
O tambor que atravessa fronteiras
Mesmo com produção artesanal e sob encomenda, os tambores criados por Poeira chegam a diversos países. Entre encomendas personalizadas, peças únicas e clientes que viajam até o Instituto, o trabalho solidifica uma rede global de valorização da cultura afro-brasileira.
Convite ao público
Ao final da entrevista, Luiz Poeira deixa um convite. “Quem quiser conhecer o Instituto, dar um alô antes ajuda a gente a preparar a visita. Temos muita história para mostrar — e o tambor conta tudo isso.”
Saiba mais sobre o Instituto Tambor
Para acompanhar o trabalho, conhecer o acervo, solicitar encomendas ou visitar o espaço:
Instagram: @institutotambor
WhatsApp: 11 93083-8482
Site: www.institutotambor.com.br
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