Tesouro Nacional alerta para risco fiscal em nove estatais federais
O Tesouro Nacional emitiu um alerta sobre a situação financeira de nove estatais federais que enfrentam desequilíbrios estruturais e risco de depender de recursos da União para se manter. O diagnóstico consta no 7º Relatório de Riscos Fiscais da União, divulgado pelo Ministério da Fazenda, e inclui empresas estratégicas como Correios, Casa da Moeda, Infraero e ENBPar, que administra a Eletronuclear.
Panorama do relatório
O documento analisou 27 estatais — 22 empresas públicas e 5 sociedades de economia mista — e serve como um “raio-x” anual sobre o potencial de risco fiscal. Segundo o Tesouro, aportes em estatais deficitárias impactam diretamente o Orçamento da União e aumentam o déficit público, comprometendo o equilíbrio das contas federais.
A previsão é de que o déficit das estatais alcance R$ 6,2 bilhões em 2025, podendo subir para R$ 6,7 bilhões em 2026. Já a dívida bruta do governo deve chegar a 79% do PIB até o fim do próximo ano.
Casos mais críticos
Entre as empresas com situação mais preocupante está os Correios, que registraram prejuízo de R$ 2,64 bilhões no segundo trimestre de 2025 — quase cinco vezes o valor do mesmo período do ano anterior. A estatal tenta viabilizar um empréstimo de R$ 20 bilhões junto a bancos públicos e privados, com aval do Tesouro Nacional. O governo trata a operação como medida emergencial, mas ela ainda depende de parecer técnico devido à fragilidade financeira da empresa.
A Eletronuclear, controlada pela ENBPar, também requer atenção. A companhia pediu socorro financeiro de R$ 1,4 bilhão para evitar colapso no caixa e busca novos recursos para concluir a usina de Angra 3, que já acumula mais de R$ 20 bilhões em custos. Especialistas alertam que o cenário coloca em risco o cronograma da obra e a estabilidade do setor energético público.
Outras estatais vulneráveis
A Casa da Moeda apresentou lucro 74% menor em 2024 e resultado operacional negativo, enquanto a Infraero teve queda de 71% na receita líquida após o processo de concessão de aeroportos.
Entre as companhias docas, cinco operam sob risco de deterioração financeira: Ceará, Pará, Bahia, Rio de Janeiro e Rio Grande do Norte — esta última depende em 72% da receita do Porto de Maceió, que pode ser transferido da sua administração.
Bancos públicos mantêm estabilidade
Apesar das dificuldades das demais estatais, o relatório destaca a solidez dos bancos públicos federais — Banco do Brasil, Caixa Econômica, BNDES, Banco do Nordeste e Basa. Juntas, essas instituições repassaram R$ 23,7 bilhões em dividendos e juros sobre capital próprio ao Tesouro apenas no primeiro semestre de 2025, superando metade da meta anual.
Especialistas e reações oficiais
O economista Fernando Soares, ex-secretário de Coordenação e Governança das Estatais, considera que os casos mais críticos são os dos Correios e da Eletronuclear, pela combinação de custos elevados, má gestão e interferência política. Segundo ele, “a solução passa por atrair investimento privado para áreas deficitárias, especialmente nas companhias docas, por meio de concessões e parcerias”.
Em nota, os Correios informaram que estão implementando um plano de reestruturação até 2027, voltado à modernização e sustentabilidade financeira, com acompanhamento técnico do Tesouro. A empresa destacou que não há previsão de aporte direto de recursos públicos.
Risco no radar
O Tesouro Nacional reforça que o quadro de vulnerabilidade das estatais é consequência de anos de interferência política e deficiências de governança. Enquanto algumas empresas buscam se reerguer, o risco fiscal permanece como um dos principais desafios do governo federal — e um alerta de que os desequilíbrios administrativos podem continuar pesando sobre o bolso do contribuinte.
