Onde a verdade encontra a democracia.
DESDE 2015

O Hospital de Amor, a política e a cultura

 O Hospital de Amor, a política e a cultura

O Hospital de Amor de Barretos já é um ícone nacional. Quem nunca viu uma campanha, um artista pedindo doações ou uma carreta rosa cruzando o Brasil? Mas há um aspecto menos falado e talvez ainda mais transformador: o Instituto Sociocultural, braço cultural da instituição. Aqui, a política e a cultura se misturam de um jeito que ilumina um fenômeno raríssimo no Brasil: um hospital que vai além da saúde, assumindo também a função de animar o tecido social de uma cidade.

Pense comigo: Barretos, interior paulista, é mundialmente conhecida pela Festa do Peão. A prefeitura, porém, esqueceu de fazer desfiles cívicos, celebrações históricas e até mesmo o 7 de Setembro — eventos que em muitas cidades são obrigação. Quem aparece para ocupar esse vazio? O Instituto Sociocultural do Hospital de Amor. Parece exagero, mas não é: uma entidade que nasceu para humanizar o tratamento do câncer é hoje responsável por resgatar tradições sertanejas e tropeiras, organizar cavalgadas, shows, oficinas de arte e até concursos de berrante. É como se a cultura local tivesse encontrado um novo coração pulsante — e esse coração está dentro de um hospital.

Política é poder. E o Hospital de Amor demonstra um poder que não depende de cargos eletivos. Henrique Prata, seu presidente, não precisa de palanque: tem legitimidade conquistada pela prática, pela obra, pelo serviço prestado. E quando uma instituição de saúde se torna também referência cultural, há uma mensagem implícita à classe política: a comunidade não pode esperar pelo Estado.

O Instituto Sociocultural tem nove projetos ativos — de palhaços profissionais que levam alegria aos pacientes a bibliotecas ambulantes, oficinas de música e teatro, exposições de arte e até livros em braile e audiolivros. Isso é política pública feita na prática, sem precisar do carimbo da prefeitura ou do governo estadual. E, ironicamente, quando a política institucional falha, quem supre é uma entidade da sociedade civil.

Agora, veja o paradoxo: enquanto políticos brigam em Brasília, Barretos dá ao Brasil uma lição. Um hospital oncológico 100% gratuito, que sobrevive da generosidade popular, ainda encontra fôlego para financiar cultura, tradição e lazer. Não é apenas saúde, é civilização. É a prova de que a política não se limita ao Congresso ou à Câmara Municipal: ela acontece onde há organização, legitimidade e confiança social.

E aqui vai a cutucada necessária: se a prefeitura de Barretos não consegue organizar um simples desfile de 7 de Setembro, mas um hospital consegue organizar cavalgadas históricas, oficinas de teatro, concertos e festivais caipiras, então está claro quem de fato governa o imaginário e a identidade cultural da cidade. Os políticos ocupam cadeiras, mas quem ocupa o coração da população é o Hospital de Amor. E isso deveria envergonhar o poder público: quando a cultura, a tradição e até o civismo são terceirizados a um hospital, é sinal de que a política local perdeu a alma.

Redação

Relacionado

Ops, você não pode copiar isto!