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Por que Barretos insiste em calar a cultura?

 Por que Barretos insiste em calar a cultura?

Vamos falar sério, Barretos. Ou melhor, vamos falar sério sobre Barretos, porque o que está acontecendo aí já é quase uma caricatura de descaso — digno de uma crônica tragicômica. O episódio recente envolvendo o Conselho Municipal de Cultura é só mais um retrato de como a política cultural local tem sido tratada: com improviso, desrespeito e, sobretudo, sem vontade política.

Na segunda-feira, dia 30 de junho, veio a bomba: a Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa soltou nota dizendo que, por conta de uma manifestação ao Ministério Público, todas as atividades do Conselho Municipal de Cultura estavam suspensas. Ora, vamos combinar: ninguém aciona o MP porque está tudo indo às mil maravilhas. O problema não é só jurídico, é principalmente político. Aliás, é de pura governança — ou da falta dela.

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Conversando com agentes culturais, fica evidente o clima de frustração. Há quem diga que não é desconhecimento da lei, não, mas pura falta de vontade política. E por quê? Porque fazer a coisa certa dá trabalho. Exige diálogo, exige abrir mão de controlar a pauta — como parecia querer fazer o secretário Bruno Bernar ao tentar escolher quem sentaria no Conselho, segundo rumores bem fundamentados. Não é surpresa que ele não tenha o apreço dos fazedores de cultura da cidade.

E aqui cabe puxar o gancho do que já vimos na história recente da Orquestra Sinfônica Municipal. Quando cobramos explicações para o sucateamento da orquestra, o que encontramos? Um prefeito disposto a apontar dedos, dizendo que vereador é quem cria problema, que sindicato faz barulho à toa, que músico é preguiçoso — enfim, uma retórica populista que tenta transformar todo mundo em vilão para que o Executivo saia como herói. É o famoso “narrar a política como luta do bem contra o mal”, com o prefeito no papel messiânico. Isso já estava lá na orquestra e agora reaparece na cultura como um todo.

Se a política cultural fosse tratada com a seriedade que merece, o Conselho estaria ativo e fiscalizando políticas, propondo editais, fomentando projetos, garantindo transparência. Mas é mais cômodo ter um conselho domesticado, escolhido a dedo, para fazer coro ao secretário. Quando não dá, paralisa tudo e joga a culpa no MP. Prático, não é?

Barretos precisa entender que cultura não é favor. É direito constitucional. E conselho de cultura não é grupinho de amigos do secretário; é órgão de controle social, fiscalizador e propositivo. O MP, se for firme, só vai exigir o óbvio: que a lei seja cumprida.

No fundo, a pergunta que paira é aquela que o agente cultural já cravou: há vontade política de fazer a coisa certa? Ou continuaremos vendo a cultura ser tratada como moeda de troca e a sociedade civil organizada como inconveniente?

A população de Barretos tem o direito — e o dever — de cobrar. Porque cultura não é luxo: é identidade, é desenvolvimento, é cidadania. E sem conselho legítimo, sem participação popular e sem compromisso real com políticas públicas, fica só o palco vazio e o som do silêncio. E, convenhamos, esse silêncio tem sido ensurdecedor.

Redação

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