Proerd forma mais 102 alunos da Rede Municipal de Ensino de Barretos
Escolhe a vida e não a morte
Estamos vivendo um momento de tão grande importância em nosso país, com as eleições que se realizam, que as nossas escolhas individuais assumiram um lugar de relevância ímpar. Não se trata apenas de escolher este ou aquele candidato, este ou aquele partido, mas escolher entre o “meu” e o “nosso”, entre o lucro e a bem comum.
São muitas as análises que tenho lido, procurando interpretar as peculiaridades deste pleito eleitoral, ou seja, as polarizações que nos dividem, a influência das notícias falsas e a relevância das redes sociais, a ausência de propostas claras de governo, o ódio e a intolerância pelo diferente, e o uso da religião como álibi eleitoral.
No fundo o que determina esse momento, que nos prepara para o segundo turno das eleições, são os nossos interesses que, na verdade, não aparecem; ao contrário, eles ficam camuflados nos slogans em favor ou na defesa desta ou daquela verdade. Mas são eles os que darão a direção para a nossa nação.
Se sempre foi assim, agora esta realidade prevalece no Ocidente que se confessa cristão. Com a implantação do neoliberalismo no mundo ocidental, as escolhas ficaram ainda mais acirradas em torno do que é vantajoso para mim e não para todos. O que importa é o meu emprego, é a minha casa de praia, é a minha situação financeira (não que isso seja ilegítimo), e não o que pode ser bom para todos, sobretudo para aqueles que necessitam mais do que ninguém do bem comum.
As desigualdades de direitos são interpretadas como “sorte”. Aqueles que não podem desfrutar de um emprego estável, de uma casa digna, de uma educação com qualidade, são os que não tiveram a “sorte” de tê-las. Estão condenados a viver a vida inteira contentando-se com as sobras, esperando pela piedade dos outros. Não são poucos os que pensam que o Estado não tem porquê se preocupar com isso; afinal, direitos são para os que podem pagar os impostos e estejam de acordo com a Lei.
Convenhamos ou não, é a lógica cruel que se implantou entre nós, onde o que importa é o interesse individual e não o bem estar social.
Mas haverá os que defendem os próprios interesses com o discurso da religião, pregando a defesa de valores importantes no campo da fé. Infelizmente o discurso religioso é manipulado em favor de alguns valores indiscutíveis, e não de todos os valores fundamentais. Em nome da religião selecionamos alguns valores, ignorando outros tão importantes e fundamentais para a dignidade da pessoa humana. Aqui também o que prevalece é o que convém, é o interesse daquele que insiste sobre um tema e ignora tantos outros. E isso não é de hoje, já no tempo dos profetas este era o drama que muitos deles pagaram com a vida por denunciar e defender.
Os profetas, e consequentemente Jesus, não se calavam diante da hipocrisia dos fariseus, defensores da Lei e do Templo, que exploravam os órfãos e as viúvas. Eles censuravam o culto e o Templo por terem sido transformados em lugar de comércio e não de adoração a Deus. Denunciavam os sacerdotes e profetas que se tornaram funcionários dos reis e acobertavam suas injustiças com as suas liturgias e sua pregação.
Enfim, trata-se também desta vez de escolher. E penso que, condicionados pela mentalidade neoliberal, o que vai prevalecer é o interesse mesquinho e egoísta que cada um traz consigo. Entretanto, a história diz que as escolhas, embora sejam livres, as consequências delas são inevitáveis. O ideal seria que nas nossas escolhas não pensássemos somente em nós, mas em todos os que dependem delas. Pois somente teremos paz se todos tiverem direito à vida e não dependerem da sorte, mas sim da justiça. Pois como diz São Tiago: “O fruto da justiça é semeado na paz, para aqueles que promovem a paz” (Tg 3,18).
Como o autor do Deuteronômio, diante de nós está a bênção e a maldição (cf. Dt 11, 26-28). A benção se compreendermos que somente o interesse comum é legítimo e capaz de garantir a paz em nosso meio; enquanto buscamos os nossos próprios interesses, colocamos em risco não só os direitos dos outros, mas os nossos também.
Dom Milton Kenan Júnior
Bispo de Barretos