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Riolando de Almeida Prado: de tiros no Tribunal à Prefeitura de Barretos

 Riolando de Almeida Prado: de tiros no Tribunal à Prefeitura de Barretos

Riolando de Almeida Prado. Acervo Museu “Ruy Menezes”.

Em 18 de dezembro de 1908, às exatas 11h18, São Paulo parou. No Fórum, em meio à correria de advogados, pigarros solenes e murmúrios de repórteres ansiosos, teve início o julgamento de Riolando de Almeida Prado. Jovem, 25 anos, recém-formado em Direito e, até então, uma das promessas da elite paulista. Mas ali, trajando um fraque preto, gravata impecável e botinas de pelica, Riolando não parecia um advogado promissor — e sim alguém que, se fosse um trem, já vinha descarrilhado. Olhar congestionado, expressão tensa. O palco estava armado.

A segurança era inédita: seis praças da cavalaria escoltavam o réu; catorze soldados guarneciam cada canto do prédio; e do lado de fora, mais seis homens em prontidão. No comando, o sargento que mereceria um capítulo à parte — Tranquillino de Andrade. Ah, Tranquillino… nome de quem deveria conduzir meditação guiada — e não liderar um esquema policial digno de filme de ação. O que se via era tudo, menos tranquilidade.

Nem o promotor escondia o drama. Encarregado da acusação, enfrentava um dilema pessoal: havia estudado com o acusado. Em seu discurso inicial, lamentava profundamente ter que acusar um velho conhecido: “Era necessário que eu me esquecesse de mim mesmo…”, dizia com a intensidade de um personagem de novela mexicana. Confessava laços com Riolando, ex-colega de escola, figura outrora brilhante. “Hoje, tênue e tristonha”, arrematava. Mas, entre pesar e eloquência, prometia cumprir seu dever — mesmo em meio ao próprio colapso emocional.

O motivo do julgamento? Uma tragédia sem precedentes e sem aviso. Meses antes, o cunhado de Riolando, André de Toledo de Lara, fora acusado de tentar matar seu sogro, João de Almeida Prado. Dois disparos. Um acertou a coxa, graças ao reflexo digno de herói do sogro, que desviou o braço do agressor. André foi capturado e levado a julgamento. Durante sua defesa, proferida por ninguém menos que um amigo da família — o advogado João Martins — Riolando resolveu entrar em cena, mas não com argumentos.

Na tribuna, como se fosse um ator fora do script, sacou um revólver e disparou contra André. Um tiro certeiro na cabeça. Morte instantânea. O plenário virou caos. Testemunhas em choque. Maria Joana do Prado Lara, esposa de André, estava na sala ao lado, destinada às testemunhas. Ouviu os disparos e os gritos. Entrou em pânico ao saber do ocorrido. Palavras exaltadas, ofensas ao pai. O motivo da rixa? “Coisas de família”, diziam. Segredos não revelados.

Riolando alegou depois que temia pela vida do pai — e pela impunidade do cunhado. Mas sua atitude selou um desfecho trágico. O defensor virou réu. O drama virou escândalo. E São Paulo jamais esqueceria aquele dia em que “Tranquillino” precisou de nervos de aço para segurar um Fórum prestes a explodir.

Riolando foi absolvido. Mudou-se para Barretos na década de 1920, e ingressou na vida política. Aqui, foi prefeito no período de 15/01/1926 a 26/10/1930.

Referências: O Estado de São Paulo, 19/12/1908.

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