Sexagenária conserva a esperança na luta pela terra

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A sexagenária Wanda Menezes sonha com um pedaço de terra para cuidar dos filhos e dos netos. A conquista seria motivo de orgulho para seus descendentes. Por isso, há mais de quatro anos ela mora num barraco do acampamento Dona Zulmira Gonçalves, da Frente Nacional de Lutas no Campo e na Cidade, uma dissidência do MST (Movimento dos Sem-terra). Lá estão inscritas 128 famílias. Elas estão acampadas às margens da vicinal Luiz Donato, a conhecida Estrada das Contendas, aguardando o desfecho da desapropriação da fazenda Santa Avóia 2.

Dona Wanda nasceu em Pereira Barreto e há muitos anos mora no bairro Clementina. Foi criada na zona rural. Seu pai era arrendatário de terras. Nesta época, pegou gosto pelo campo. Trabalhou muito. Não se arrepende. Teve cinco filhos e criou outros cinco dos outros. No total, são 18 netos e dois bisnetos.

Ela recorda que quando ingressou no acampamento a situação era difícil. “Mas vencemos.” – diz. É uma luta cansativa, confessa. Conta que a principal dificuldade é a falta de água. Os barracos são abastecidos por água fornecida por um fazendeiro vizinho. Queixa-se também da velocidade dos caminhões que transitam pelo local. “Não respeitam a gente.” – lamenta.

A militante relata que a ventania descobriu o barraco em várias ocasiões. Consertaram. Antigamente a enxurrada invadia o local. “Tinha que tirar a água com um bardim.” – lembra. Depois que aterraram o piso o problema foi solucionado. A situação melhorou. Na entrada, há várias mudas de árvores que pretende plantar na sua futura propriedade.


Dona Wanda Menezes no interior de seu barraco no acampamento. (Foto: Aquino José/ Seven Press)

No barraco de Dona Wanda a iluminação é fraca. A luz é produzida por uma pequena placa de energia solar. Porém, não tem televisão. A mulher gasta seu tempo confeccionando tapetes e cortinas de garrafa pet, entre outros trabalhos artesanais. Na cozinha, há panelas em cima de um fogão a gás. Na refeição, os moradores consomem arroz, feijão, macarrão, carne e frango.

Um quartinho de despejo abriga a bagunça do marido João, 80 anos, que já foi picado por uma jararaca. “O meu véim vai todo dia de bicicleta para a cidade trabalhar como sorveteiro. À noite, retorna ao barraco.” – conta. Um filho de 39 anos também se abriga numa cama instalada na cozinha improvisada. Dona Wanda levou um grande susto na época em que ocuparam a CEAGESP de Barretos. Sua filha foi picada por uma aranha e quase morreu. Ficou três semanas internada até se recuperar. Na ocasião, ela tinha uma criança com um ano e três meses, recorda.

Dona Wanda tem um galinheiro do outro lado da vicinal, em frente a seu barraco. Lá estão oito galinhas, duas patas e um galo. Todos são identificados pelo nome. Uma pata chama Maria e a outra Isaura. O galo é o Belchior. Anexo, num pequeno chiqueiro, cria quatro porquinhos, todos também batizados com nomes curiosos. E ela chama com carinho a Pepa, D’Jorge, Geringonça e Marinha.

Quando tomar posse da terra, Dona Wanda pretende cultivar milho, abóbora, mandioca, entre outros. E criar seus porquinhos e galinhas. Além de plantar um pomar e uma horta. Obcecada por conquistar um pedaço de chão na zona rural, ela só vai a cidade por necessidade. “Eu gosto daqui.” – afirma. A sexagenária acredita que a terra sai ainda nesse ano. “Se Deus quiser!” – exclama. “Eu não perco a esperança. Nunca vou perder!” – garante.

Fonte: Aquino José/ Seven Press

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