Uma heroína barretense evitou que o Brasil entrasse na guerra contra a Coreia

 Uma heroína barretense evitou que o Brasil entrasse na guerra contra a Coreia
Digiqole Ad

Elisa Branco Batista nasceu em Barretos em 1912, filha do casal português José Branco e Carolina. O pai era um comerciante de madeiras, católico e humanista. Ele morreu quando ela tinha seis anos. Ela viveu com a mãe e cinco irmãos na cidade até a idade adulta. Casada com Norberto Batista durante 62 anos, Elisa Branco teve duas filhas barretenses: Florita e Horieta.

Após a morte do pai José Branco, em Campinas (SP), a família passou por dificuldades financeiras. Para sobreviver, “os Branco” tiveram que alugar os quartos do casarão em que nasceram, de 21 cômodos.

Em 1922, quando tinha 10 anos, Elisa Branco abandonou os bancos escolares depois de se desentender com a professora em um desfile de 7 de setembro, em Barretos. O motivo da discussão foi a roupa amassada. Então ela decidiu não mais voltar à escola. Daí a família tratou de substituir a cartilha da menina por jornais da capital. Foi o seu despertar para a política, conforme reportagem da IstoÉ Gente.

A militância política de Elisa Branco começou em Barretos. Em 1945, ela assumiu o Departamento Feminino do Comitê do PCB (Partido Comunista Brasileiro). Em 1946, foi eleita vice-presidente e participou da inauguração do Comitê Popular Democrático da Fortaleza, cuja sede ficava na Rua 22, número 1220. A organização defendia melhorias para o bairro.


Elisa Branco durante sua militância. 

“Como aqui não tinha nada para a mulher trabalhar, fui para São Paulo onde aprendi a costurar com minha prima.” – disse ela ao jornal Inverta, órgão oficial do PCML (Partido Comunista Marxista Leninista), do qual Elisa Branco foi fundadora, no ano 2000.

Na capital, foi presidente de honra da Federação das Mulheres de São Paulo e vice-presidente do Movimento Brasileiro dos Partidários da Paz. Em 1950, num desfile de 7 de setembro, no Vale do Anhangabaú, desafiou o governo Dutra ao abrir uma faixa de cinco metros de extensão com os dizeres “Os soldados, nossos filhos, não irão para a Coreia”. Também encontraram em seu poder vários boletins tidos como “subversivos”. Os folhetos tinhas os seguintes títulos: “Ao coração das mães brasileiras” e “Soldados e marinheiros”. A ação era um protesto contra o apoio do Brasil aos Estados Unidos na Guerra da Coreia.

Aplaudida pela multidão, foi presa e conduzida ao DOPS (Departamento de Ordem Política e Social). Ficou oito dias incomunicável. Foi condenada a quatro anos e três meses de prisão. “Mas uma luta muito bem-feita obrigou o governo a desistir de mandar brasileiros para a guerra.” – disse na ocasião.


Ilustração em defesa de Elisa Branco.

Na prisão, a barretense alfabetizou detentas, ensinou corte e costura e higiene pessoal. Do lado de fora, organizou-se um movimento pela sua libertação, campanha da qual participou até a Rádio Central de Moscou. Depois de um ano e oito meses de cárcere, ela foi libertada. Em 1953, no Palácio do Kremlin, em Moscou, na União Soviética, recebeu o Prêmio Internacional da Paz.

Em 1958, Elisa Branco voltou a Barretos, onde participou de um comício na Praça Conselheiro Antônio Prado (a Praça da Estação), quando um simpatizante da candidatura Carvalho Pinto sai esfaqueado “sem gravidade”, como destacou à época o jornal Correio de Barretos.

Em 1964, Elisa Branco morava na Vila Mariana, em São Paulo, e foi importunada pelos militares. “Os bandidos do DOPS reviraram tudo e levaram um monte de fotografias pessoais”, contou à revista ISTOÉ. Em 1971, agentes foram buscá-la de madrugada, mas, aos berros, ela acordou a vizinhança. “Estão me levando.” A família ficou três dias sem informação, até que foi liberada por falta de provas.

Elisa Branco faleceu em 8 de junho de 2001, aos 87 anos, em São Paulo. Sua militância política é reconhecida em trabalhos acadêmicos e livros.

 

(Publicado originalmente do jornal Brasil Atual)

Digiqole Ad

Aquino José

Relacionado

Deixe um comentário

Ops, você não pode copiar isto!