Editorial: Barretos em risco: O futuro do Recinto Paulo de Lima Correa e a perda do título de Estância Turística

 Editorial: Barretos em risco: O futuro do Recinto Paulo de Lima Correa e a perda do título de Estância Turística
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Barretos, famosa por sua conexão com a cultura sertaneja e o agronegócio, está à beira de perder seu título de Estância Turística. O Recinto Paulo de Lima Correa, um dos maiores símbolos da cidade, está no centro desse debate e, infelizmente, corre o risco de ser desvirtuado de sua verdadeira função.

Patrimônio histórico e cultural de Barretos

O Recinto Paulo de Lima Correa foi, por décadas, a casa da Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos, evento que atraiu milhares de turistas e fortaleceu a identidade cultural da cidade. Tombado como patrimônio histórico, o recinto é uma verdadeira relíquia da cultura caipira e do agronegócio, elementos fundamentais para a história de Barretos. A historiadora Elisete Greve Tedesco, que há anos luta pela preservação desse local, afirma que a construção do recinto em 1945 foi um marco para a cidade, destinada a exposições de animais e à celebração da cultura sertaneja. Tedesco é uma das vozes mais ativas na defesa do patrimônio de Barretos e vê no tombamento do Recinto uma conquista importante para o futuro cultural da cidade.

O abandono do Recinto e a proposta de requalificação

Desde 2002, o Recinto Paulo de Lima Correa encontra-se em estado de abandono, o que leva a uma pergunta crucial: por que Barretos não conseguiu preservar esse patrimônio? A resposta parece residir em uma gestão municipal que, ao invés de buscar formas de revitalizar o espaço para o turismo e a cultura, tem se concentrado em projetos que desvirtuam suas funções originais. Recentemente, o prefeito Odair Silva sugeriu que o Recinto abrigasse parte da estrutura de segurança pública da cidade, incluindo a Polícia Ambiental, além de reforçar a presença da Ronda Municipal e da Cavalaria da Polícia Militar. Embora a segurança pública seja, sem dúvida, importante, transferir funções para o Recinto ameaça comprometer seu caráter histórico e cultural, que são justamente as bases de seu tombamento.

A luta pela preservação cultural

Em 10 de janeiro de 2025, Elisete Greve Tedesco não poupou críticas à gestão atual. Ela destacou que a proposta de utilizar o Recinto para fins de segurança pública é um “absurdo”. “O Recinto é um patrimônio tombado, é um instrumento da cultura, não da segurança pública ou do meio ambiente. Deixaram destruir o bem e agora querem desvirtuar suas funções originais, desviando o foco de sua missão cultural e turística,” declarou. A falta de uma gestão voltada para a preservação e valorização do patrimônio coloca em risco o próprio título de Estância Turística de Barretos.

Entre progresso e desprezo pela cultura

A administração de Paula Lemos, que iniciou a construção de um Canil da Polícia Militar dentro do Recinto em 2024, não deu atenção adequada ao patrimônio cultural da cidade. Embora investimentos em segurança pública sejam necessários, há uma falta de alinhamento entre os projetos urbanos e a preservação histórica. A construção do canil, com suas baias para cães e espaços de treinamento, pode ser vista como mais um sintoma do desprezo pela cultura local. Em vez de usar o Recinto como um centro cultural e turístico, o que poderia atrair visitantes e valorizar a identidade de Barretos, a cidade parece priorizar ações que não condizem com a sua vocação histórica e turística.

O desafio de aproveitar o título de Estância Turística

Barretos recebeu o título de Estância Turística, um reconhecimento à sua relevância no cenário cultural e turístico paulista. No entanto, esse título, que poderia ser um motor para o desenvolvimento local e o fortalecimento do turismo, está ameaçado pela falta de ação efetiva para preservar o patrimônio histórico e promover a cultura da cidade. A verdadeira questão é: Barretos sabe aproveitar esse título? Até o momento, as gestões municipaos tem se mostrado incapaz de combinar o progresso urbano com a preservação cultural, o que coloca em risco a continuidade do título e, consequentemente, o futuro do turismo na cidade.

Preservação ou destruição?

A cidade de Barretos enfrenta um dilema que precisa ser resolvido com urgência: entre seguir investindo em projetos que desvirtuam o Recinto Paulo de Lima Correa ou adotar uma postura mais sensível à sua história e à sua vocação cultural. O futuro do Recinto e o título de Estância Turística estão em jogo. A preservação da cultura e do patrimônio histórico é fundamental para o desenvolvimento de Barretos como um destino turístico reconhecido e respeitado.

A cidade precisa de uma gestão que compreenda a importância do Recinto Paulo de Lima Correa como um símbolo da cultura caipira e do agronegócio, não como um espaço a ser transformado em mais uma instalação pública sem relação com sua essência. É hora de repensar a utilização desse espaço e investir na sua revitalização como um centro cultural, turístico e de memória. Caso contrário, Barretos corre o risco de perder não apenas seu título de Estância Turística, mas também a conexão com sua própria história.

Redação

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