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Bebê Reborn: entre o realismo emocional e o debate social
- Ronaldo Dutra é cientista político
Nas últimas semanas, uma nova tendência tem ganhado força no Brasil: os bebês reborn. Mas, afinal, o que são esses curiosos bonecos?
Os bebês reborn são bonecos confeccionados artesanalmente com o propósito de se assemelharem, ao máximo, a recém-nascidos reais. São conhecidos pelos detalhes hiper-realistas — pele com veias, peso equivalente ao de um bebê humano, cílios implantados fio a fio — a ponto de, frequentemente, serem confundidos com crianças de verdade.
À primeira vista, pode parecer apenas uma forma de arte ou um hobby. No entanto, o tema tem provocado debates acalorados entre mães, especialistas, parlamentares e membros da imprensa. Discussões em redes sociais, disputas judiciais e até projetos de lei em tramitação no Congresso Nacional indicam que o assunto extrapolou a estética e tornou-se pauta social e política.
Diante desse cenário, surge uma pergunta fundamental: e a saúde mental, como fica?
A situação desperta curiosidade — e também preocupação — quando algumas pessoas passam a tratar o boneco como um bebê real. “O ponto interessante é quando alguém projeta uma realidade afetiva no reborn, cuidando dele como se fosse seu próprio filho”, observa um especialista. Contudo, é importante destacar que esse nível de envolvimento emocional não representa a maioria dos colecionadores, que veem os bonecos como objetos artísticos ou instrumentos terapêuticos.
Ainda assim, o tema tem sido explorado por alguns parlamentares como palco para exposição pública, com propostas legislativas que, em muitos casos, carecem de embasamento técnico e científico. Em vez de fomentar um debate construtivo, há quem instrumentalize o assunto para fins de autopromoção em meio à comoção popular.
Nesse contexto, cabe uma reflexão: até que ponto essa discussão é realmente benéfica para a sociedade?
O Brasil conta hoje com mais de 32 mil crianças vivendo em abrigos, à espera de uma família, de afeto e de dignidade. Em vez de concentrarmos nossas atenções exclusivamente em bonecos que simulam bebês, talvez essa “nova onda” sirva como convite para repensarmos nossas prioridades sociais e emocionais.
O fenômeno dos bebês reborn pode ser encarado como uma manifestação artística, uma válvula de escape emocional ou até mesmo como reflexo da solidão contemporânea. O essencial é que, ao julgar esse comportamento, estejamos igualmente dispostos a compreender suas causas — sem abrir mão do respeito, da empatia e, acima de tudo, do bom senso.