Quando o punk resolveu enfrentar o Natal: a história incômoda de “Papai Noel Velho Batuta”
Quando o punk resolveu enfrentar o Natal: a história incômoda de “Papai Noel Velho Batuta”
A banda Garotos Podres surgiu em 1982, na cidade de Mauá (SP), em pleno cenário de crise econômica, desemprego e desgaste final da ditadura militar brasileira. Desde o começo, o grupo — liderado por Mao (vocal) — chamou atenção por um punk rock simples, irônico e abertamente político, misturando influência do punk inglês com a realidade social do Brasil. A ideia nunca foi fazer música “agradável”, mas provocar: letras curtas, mas com conteúdo duro.
A música “Papai Noel Velho Batuta”, lançada na década de 1980 no disco Mais Podres do que Nunca, virou uma das faixas mais conhecidas e polêmicas da banda. A letra faz uma crítica direta ao consumismo, à hipocrisia social e à desigualdade, usando o Papai Noel como símbolo de um sistema que promete felicidade enquanto exclui quem está à margem. Um detalhe marcante é o uso de trocadilhos que soam como palavrões sem dizê-los de forma explícita, aumentando o tom sarcástico.
Anos depois, a música voltou ao debate quando virou alvo de um inquérito em São Paulo, com a acusação de desrespeito a símbolos cristãos. O problema é que Papai Noel nem figura religiosa é: é um personagem comercial moderno, associado ao marketing de Natal. Em meio a essa discussão — e aos 40 anos da música — a banda lançou um clipe animado reforçando a crítica com bom humor ácido. Em shows, Mao chegou a comentar o caso ironicamente, lembrando que “Papai Noel não existe”.
Vale lembrar que os Garotos Podres sempre lidaram com censura, boicotes e pressões em vários momentos da carreira, inclusive depois do fim da ditadura. Isso ajudou a consolidar a banda como um dos nomes mais consistentes do punk nacional, mantendo o mesmo discurso contra autoritarismo, moralismo seletivo e injustiça social. “Papai Noel Velho Batuta”, nesse sentido, não é só uma música polêmica: é prova de como a arte incômoda continua atual — e contestada — décadas depois.
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