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100 Anos da Revolta Barretense: 1925 – 2025. Travessia, Sabotagem Mal Sucedida e Tiros
Com as notícias de uma resistência se formando. A Coluna Revolucionária, sob o comando de Philogônio Theodoro de Carvalho, partiu estrada afora com motores roncando e esperanças no porta malas. O destino era audacioso: cruzar o Rio Grande, adentrar o território mineiro e alcançar o Mato Grosso, onde a Coluna Prestes o aguardava e assim compor uma revolta de status nacional.
Mas entre o destino e o desejo, havia obstáculos. E o primeiro deles se chamava Rio Grande — extenso, imponente, impossível de atravessar com veículos sem ajuda. A solução? Um barco a vapor ancorado em Porto Antônio Prado, que serviria de ponte entre o presente e a promessa de liberdade.
A travessia começou como operação militar. Veículos embarcados, homens em silêncio, olhares atentos. Philó, sempre estrategista, sabia que aquele momento podia definir o futuro. Uma travessia bem-sucedida daria vantagem tática; uma falha, ruína antecipada. Por isso, um plano paralelo foi traçado: assim que os revoltosos cruzassem, um dos combatentes teria a missão de sabotar o barco. Bastaria retirar uma peça, um pequeno gesto que poderia atrasar os legalistas em horas valiosas. Tempo suficiente para desaparecer no cerrado.
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Contudo, o que era para ser um movimento calculado virou uma das mais emblemáticas falhas da Revolta de Barretos. O revolucionário encarregado — exausto, distraído ou talvez sobrecarregado pela tensão — simplesmente esqueceu. A embarcação permaneceu intacta, como uma promessa quebrada flutuando sobre a correnteza.
Horas depois, os legalistas em marcha firme, embarcaram com facilidade e alcançaram a margem oposta sem resistência. O plano de Philó, que dependia do tempo para dispersão e recuo, desmoronou com o esquecimento de uma única peça mecânica.
O impacto foi imediato. A perseguição ganhou velocidade, e os revoltosos, antes com vantagem de terreno, passaram a correr contra a própria falha. Philó, ao descobrir o erro, sentiu que guerras se perdem não apenas em batalhas, mas em omissões.
No dia 4 de junho, próximo à cidade do Prata, a caçada culminou no confronto mais violento da revolta, o sertão virou campo de batalha. Foram quatro horas de tiros cruzados, poeira no ar e ecos de vozes que mal podiam se ouvir sobre o barulho das metralhadoras. Vinte e quatro insurgentes tombaram. Alguns sem munição, outros sem fôlego, todos com o peso do vapor não sabotado nas costas.
Dentro da coluna, nas horas que antecederam o confronto, rumores se espalharam … Teria sido descuido? Traição? Havia quem olhasse de esguelha o companheiro do lado, como quem busca culpados em rostos conhecidos. A confiança, esse alicerce invisível da luta, tremia.
O protagonista da Revolta, Philó, escapou. Ninguém sabe exatamente como. A lenda diz que sumiu guiado por instinto e fé. De Goiás, partiu para Jataí, e no dia 5 de julho de 1925 encontrou-se com o capitão Luís Carlos Prestes. Ali, sob o céu vasto do Cerrado, integrou-se oficialmente à Coluna, assumindo nova missão: entregar uma carta ao General Isidoro, no Paraguai.
Em 12 de agosto — dia do seu aniversário — Philó surgiu pela última vez em fotografia, na cidade de Juan Caballero. De pé, ao lado dos companheiros, sustentava um olhar sóbrio e decidido. Era o retrato de um homem que carregava não só o fardo da sobrevivência, mas o peso dos erros que o tempo não corrigiu.
Mesmo após a derrota em Barretos, a Revolta continuava a ecoar. O governo federal mandou grande quantidade de reforços militares: primeiro 150 homens do 4º Batalhão, seguidos de um grupo de metralhadoras do 3º, e depois 480 soldados do Batalhão de Pelotas, liderados por Tancredo Fernandes de Mello. O ambiente estava saturado de tensão e expectativa. Mas como nem só de guerra vive o povo, Barretos também foi palco de bailes no Grêmio e partidas de futebol entre militares e moradores — porque quando há metralhadora, que pelo menos haja distração. E, assim, durante meses o barretense conviveu com tropas federais.
Na próxima edição- Epílogo: com a mudança de governo, denúncias sobre excessos cometidos pelas tropas federais em Barretos começaram a aparecer na imprensa. Philó, distante e silencioso, fez seu último mergulho — não nas águas do rio, mas na História.