Prefeito Odair Silva já realizou 55 nomeações e designações para sua administração
Paula Lemos – gratidão, superação e a verdade histórica de Barretos
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No dia 1º de janeiro de 2025, Paula Oliveira Lemos fez seu discurso de despedida do cargo de prefeita de Barretos, refletindo sobre os quatro anos de sua gestão e o legado que deixa para a cidade. Seu discurso, carregado de emoção e agradecimentos, teve a intenção de exaltar sua trajetória à frente da prefeitura e de destacar a superação das dificuldades enfrentadas durante seu mandato. No entanto, ao realizar uma análise crítica de alguns pontos de sua fala, notamos certas omissões e até distorções históricas que merecem ser abordadas.
A gratidão e a superação das dificuldades
A ex-prefeita iniciou seu discurso com um tom de gratidão, destacando sua fé, sua família e a confiança dos barretenses, afirmando que sua gestão foi marcada por momentos de adversidade, como a pandemia, a seca e as queimadas. A escolha de Paula Lemos por não falar das dificuldades, mas sim da superação, é interessante. Essa abordagem busca construir uma narrativa de resiliência e eficácia, elementos essenciais para uma administração pública em tempos de crise.
A ex-prefeita também enfatizou que a cidade de Barretos passou por uma grande transformação durante seu mandato, mencionando avanços na educação, saúde, segurança, comércio, esporte e no bem-estar da população. No entanto, ela afirmou que sua administração foi voltada para as pessoas, citando como exemplo a ideia de que “uma obra não se mede pelo seu tamanho, mas pelo seu significado.” Essa afirmativa busca valorizar gestos simples, como o frango na cesta básica de Natal, sugerindo que cada ação, não importa o tamanho, tem um impacto profundo na vida dos cidadãos. Porém, ao tentar construir essa imagem de progresso, seria necessário um maior detalhamento sobre os resultados concretos e mensuráveis de suas políticas públicas.
A revisão da história: A criação da 13ª Região Administrativa
Em um dos momentos mais interessantes do discurso, Paula Lemos fez questão de ressaltar o protagonismo de João Monteiro de Barros Filho, dizendo que, sem ele, Barretos não seria sede da 13ª Região Administrativa do Estado de São Paulo. Essa afirmação levanta um ponto crucial de nossa análise. O Diário Oficial do Estado de São Paulo revela, por meio do Decreto nº 20.530, de 10 de fevereiro de 1983, que a criação da 13ª Região Administrativa já estava formalizada. Nunca se soube que Monteiro Filho teve atuação política nesta época ou em qualquer outro momento de sua vida.
O decreto, assinado pelo governador José Maria Marin, estabelece Barretos como sede da região, mas não menciona a contribuição direta de João Monteiro de Barros Filho, cuja figura não aparece nas documentações oficiais relacionadas à criação da região administrativa. Na verdade, a história política de Barretos, como o vereador Rodrigo Malaman já destacou em 2021, aponta o ex-prefeito Uebe Rezeck como o verdadeiro protagonista na defesa e na criação da 13ª Região Administrativa. A própria Câmara Municipal, em ata de 1983, menciona o envolvimento de um grupo de trabalho e cita licença das funções de vereador de Sebastião Misiara.
Além disso, a história do município mostra que as negociações para a criação da região administrativa começaram durante a gestão do prefeito Mélek Zaiden Geraige e foram consolidada durante o mandato de Uebe Rezeck, com apoio de vários políticos da época, incluindo a atuação da Câmara Municipal de Barretos.
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A força do discurso e os desafios do futuro
Ao encerrar seu discurso, Paula Lemos desejou sucesso ao novo prefeito, Odair Silva, e se mostrou disposta a continuar colaborando com a cidade, destacando que Barretos “está em boas mãos”. O discurso de despedida, com seu tom de gratidão, fé e otimismo, buscou reforçar a imagem de uma gestão que, apesar das adversidades, conseguiu deixar um legado de prosperidade e desenvolvimento.
Entretanto, o discurso da ex-prefeita também levanta questões importantes sobre a construção da memória política e a relação com a verdade histórica. A tentativa de atribuir a João Monteiro de Barros Filho o mérito pela criação da 13ª Região Administrativa, por exemplo, é uma distorção que não corresponde à documentação oficial e à memória coletiva da cidade. Tais afirmações podem ser vistas como uma estratégia de aproximação de figuras e de um setor da imprensa da cidade, mas, ao mesmo tempo, prejudicam a clareza e a precisão histórica que deveriam nortear a política pública e a análise do legado dos governantes.
Em última instância, o discurso de Paula Lemos, embora repleto de aspectos positivos e da tentativa de se colocar como uma administradora comprometida com a população, carece de um maior embasamento nos dados concretos de sua gestão e, sobretudo, na honestidade com a história de Barretos. Se o objetivo da ex-prefeita era consolidar seu legado, é fundamental que se dê mais atenção aos fatos, à verdade histórica e ao reconhecimento dos reais protagonistas do passado e do presente da cidade.