Carlim Moura preserva tradição do tropeirismo

 Carlim Moura preserva tradição do tropeirismo

Quando tinha 3 anos de idade, Carlos Batista Martins Moura, só queria acompanhar o pai, o comissário Edemundo Martins Moura. Com sua comitiva ele trazia boiadas de Goiás, Mato Grosso e Minas Gerais para engordar em território paulista. O destino final era o frigorífico e os matadouros de Barretos.

Aos 6 anos, o pai matriculou Carlim Moura na escola. Ele não foi cursar o primeiro ano. Aos 7 anos, não teve jeito. Entrou na escola e concluiu a 8ª série. Parou por aí. Seu destino era seguir os passos do pai.

Edemundo Martins Moura foi comissário até por volta de 1980. Daí em diante, passou a administrar fazendas. Em sua nova função ele entregava boiadas e recebia as manadas nas propriedades.

Pai e filho aprenderam a cozinhar por “necessidade” no transporte de boiadas pelo estradão. A convite de amigos peões, vinham degustar a comida da queima do alho quando a Festa do Peão de Barretos era realizada no Recinto Paulo de Lima Correa.

Depois de muitos convites, resolveram participar do concurso. Quando vieram, se apaixonaram pelo lugar. Há 15 anos a Comitiva Água Doce, de Icem/SP, disputa o concurso culinário. Venceu a competição em 6 ocasiões.

Edemundo Martins Moura faleceu em 2009. Tinha 82 anos. O filho Carlim Moura continuou mantendo a tradição da família de competir no concurso de culinária típica dos peões de boiadeiro, realizado no Ponto de Pouso, no Parque do Peão, no mês de agosto, durante a Festa barretense.

–“Considero esse local sagrado. Tenho o maior respeito por esse lugar que mantem a cultura do tropeirismo”, afirmou.

Carlim Moura confessou que é devoto de Nossa Senhora Aparecida, São João Batista e do Divino Pai Eterno.

Campeão do concurso Queima do Alho de 2017, Carlim Moura disse que a comida dos tropeiros não tem segredo. Explicou que não coloca muito tempero.

— “Uso mais o sal, alho, os temperos naturais”, contou.

Lembrou ainda que gosta de usar apenas carne boa, bem cuidada. E o pessoal gosta e elogia a comida.

Ele participa de concursos em várias localidades. Em alguns lugares, apenas faz demonstrações. Também é um exímio tocador de berrante.

Aos 54 anos, Carlim Moura reside em Icem/SP. Arrendou um terreno na zona rural da cidade, onde mantém 5 mulas e 10 vacas. Com sua tropa, às vezes, presta serviço para algum fazendeiro.

Atualmente o que sustenta Carlim Moura é a arte de trançar couro. Em seu trabalho artesanal ele faz laço, cabeçada, cabresto, peiteira, chaveirinho e uma variedade de tralhas.

Por causa de sua criatividade, passou a ser requisitado por escolas para demonstrar o ofício à garotada. Alguns estudantes se interessam pelo trabalho, outros desistem.

— “Tem garoto que perseverou e hoje está vivendo disso”, comentou.

Para Carlim Moura o movimento do tropeirismo está sendo resgatado. Em sua opinião, a atividade quase foi extinta. Mas, ressurgiu forte, com a adesão de moradores da cidade.

— “Tem muita gente andando a cavalo. Há alguns anos isto não existia”.

O trançador confirmou presença na 4ª edição do Barretos Muar do Sertão, que acontece de 12 a 15 de outubro. Ele pretende aproveitar a festa e vender algumas tralhas que produz.

— “Não pretendo me aposentar. Não quero dinheiro. Quero que Deus me dê forçar para trabalhar para que eu possa me sustentar”, concluiu.

Aquino José

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